Uma garrafa de água de plástico de litro e meio quase cheia de água, 10 mililitros de lixívia para eliminar os fungos e uma placa de zinco. O processo é simples, mas o impacto é enorme. O sol incide na água e a garrafa (com uma metade dentro e a outra fora da habitação) funciona como uma espécie de claraboia, equivalente a uma lâmpada de 40 watts.
A água não se evapora e o efeito luminoso pode prolongar-se por três anos, além de eliminar perigos como incêndios ou doenças respiratórias provocados pela utilização de tochas ou querosene. Isto num país onde 70% da população não tem acesso à eletricidade.
Esta é uma das ideias implementadas na Guiné-Bissau pela organização Educafrica, fundada há cinco anos por Inês Rodrigues, que lhe valeu o Prémio Terre de Femmes, atribuído pela Fundação Yves Rocher para premiar mulheres que se destacam na área da ecologia em oito países (Portugal, França, Alemanha, Suíça, Rússia, Marrocos, Ucrânia e México).
Professora de inglês no Centro de Formação Profissional da Indústria da Construção Civil e Obras Públicas do Norte (CICCOPN), na Maia, os alunos africanos que frequentam a escola inspiraram Inês Rodrigues a avançar com a criação da organização e estão envolvidos em algumas das ações da Educafrica.
O projeto Tabanca Solar, que mereceu o prémio de 10 mil euros, além da garrafa-lâmpada, inclui fornos solares, sistemas fotovoltaicos e desidratadores solares. Ao todo, os projetos da Educafrica chegam a mais de 5 mil pessoas de cinco aldeias da Guiné-Bissau.
Investir para evoluir
O dinheiro do prémio vai ser investido na investigação de uma forma de garantir o funcionamento das garrafas gota de luz durante a noite e também num projeto-piloto para a recolha do lixo produzido durante os mercados semanais da região. Será dada formação sobre a importância de recolher o desperdício e também sobre métodos de reaproveitamento e reciclagem.
O sistema fotovoltaico integrado no projeto Tabanca Solar, que permite iluminar escolas e centros de saúde também à noite, foi desenvolvido pelos alunos do CICCOPN, onde Inês Rodrigues dá aulas, e consiste numa caixa de derivação com uma bateria ligada a uma luz fixa, além de uma lanterna solar portátil.
O desidratador solar que está a ser desenvolvido pela organização vai permitir desidratar fruta e legumes em oito horas, garantindo a preservação dos nutrientes dos alimentos durante dois anos.
Mudar vidas é o lema da Educafrica que, com este prémio, espera mudar muitas mais.
A bióloga portuguesa Catarina Grilo também foi premiada com uma Menção Honrosa, no valor de 3 mil euros, pelo projeto Cabaz do Peixe, que distribui cabazes de peixe, sem intermediários, diretamente dos pescadores para os consumidores, que ficam sujeitos aos tipos de peixe pescados, sem terem opção de escolha para dimunuir o desperdício (três quilos de peixe custam 20 euros por semana).
As vencedoras de cada país estão, agora, habilitadas a ganhar o Grande Prémio Internacional da Fundação Yves Rocher, no valor de 10 mil euros, e podem ainda ganhar o Prémio do Público (5 mil euros) através da votação online.