Há apenas sete meses, as Nações Unidas apresentavam o seu World Risk Index 2014 – relatório onde se identificavam os estados mais expostos do planeta a desastres naturais. No topo da lista figurava um pequeno país formado por 83 ilhas e com pouco mais de 200 mil habitantes: Vanuatu. Segundo o documento da ONU, o arquipélago do Pacífico Sul era apenas um dos vários estados soberanos em risco no sudeste asiático – Filipinas, Tonga, Ilhas Salomão, Papua Nova-Guiné, Timor-Leste e Brunei são os outros que aparecem na tabela dos mais ameaçados. A realidade encarregou-se de demonstrar que os especialistas não se enganaram.
Na madrugada de 14 de março, uma tempestade de grau 5, intitulada Pam, com ventos superiores a 350 quilómetros/hora abateu-se sobre a região e arrasou quase tudo à sua passagem. “Foi como se um gigante com um machado cortasse todas as árvores e tudo o que estivesse no seu caminho, a ilha inteira”, contava no início desta semana um sobrevivente de Port Villa, a capital de Vanuatu. No entanto, dado o isolamento geográfico, os efeitos da destruição continuam por apurar, pelo menos enquanto não chegar a assistência às zonas mais remotas. Para já, o número de mortos cifra-se em algumas dezenas, mas organizações como os Médicos do Mundo falam num “cenário de apocalipse” e uma responsável da UNICEF na Nova Zelândia descreveu o ocorrido como “uma das piores catástrofes na história do Pacífico”.
O Presidente do Vanuatu, Baldwin Londsdale, escapou ileso por se encontrar no Japão, onde participava numa conferência sobre mudanças climáticas, mas não teve dúvidas em afirmar esta segunda-feira, 16, que a tempestade deitou por terra “todas as infraestruturas que o governo construíu nos últimos dois anos”.
De acordo com os números avançados com o chefe de Estado, 90 por cento dos edifícios da capital estão agora danificados e os seus 45 mil habitantes não podem contar com o regular abastecimento de água e ainda menos com a rede elétrica. Sucede que a ilha de Efaté, onde está a capital e a esmagadora maioria da população se protege em abrigos improvisados, pode não ter sido a mais afectada pelo ciclone Pam. Mais de dois terços dos habitantes do arquipélago dependem da agricultura de subsistência e uma funcionária da UNICEF, Alice Clements, disse ao Independent que existe a possibilidade da ilha de Tannu, por exemplo, ter todas as suas colheitas perdidas. Aliás, é nesta última que fica o mais conhecido dos seis vulcões ativos do Vanuatu, o Yasur, que significa Deus para os nativos. E é bem provável que muitos deles acreditem que tudo não passa de uma vingança divina e que esta última tempestade seja mais uma manifestação dos yarimus – os demónios que vivem nas pedras vulcânicas do arquipélago.
No entanto, as estatísticas revelam que as mudanças climáticas e os fenómenos climatéricos extremos são cada vez piores e fazem cada vez mais vítimas – 42 milhões de mortos desde 1980, com um custo anual superior a 220 mil milhões de euros em prejuízos materiais, sobretudo nos pontos mais pobres do planeta. Os efeitos do Pam são mais do mesmo, no Vanuatu e nos outros territórios também afetados – casos do Tuvalu, do Kiribati e das Ilhas Salomão.