Os anos da troika em Portugal, entre 2011 e 2014, período em que os nossos destinos (os micro e os macro) dependeram de decisões assinadas pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, deixaram e vão continuar a deixar uma marca forte na memória coletiva dos portugueses. Foi um período em que muito se falou de “narrativas”, com destaque para uma que parecia justificar toda a austeridade: os habitantes de Portugal tinham andado a viver acima das suas possibilidades, e agora era altura de acertar contas. Um grupo de nove fotógrafos portugueses (que começou pela ideia original de Adriano Miranda, Paulo Pimenta e Lara Jacinto) decidiram que era importante registar, e fixar, as marcas visuais desses anos de troika. Apresentar, num trabalho feito com tempo, contra o imediatismo quotidiano dos media, outras narrativas, contadas em imagens, aquelas que podiam revelar a vida dos portugueses, ou de um espaço chamado Portugal, nestes tempos em que a palavra “austeridade” feria, omnipresente.
No prefácio do livro Projeto Troika (que inclui também um DVD, com a curtametragem de Pedro Neves Acima das Nossas Possibilidades), o sociólogo Boaventura Sousa Santos escreve sobre as imagens que se podem ver nas páginas seguintes: “São a mais eloquente denúncia da ditadura austeritária a pesar sobre os portugueses que até agora me foi dado ver ou ler.” Nestes oito portefólios e no filme de Pedro Neves encontra “o ser humano indefeso face à prepotência anónima das leis e dos regulamentos, das crises e dos orçamentos, dos despotismos democráticos e das democracias despóticas”.
Quando Paulo Pimenta, Rodrigo Cabrita, Lara Jacinto, Adriano Miranda, António Pedrosa, Bruno Castanheira, José Carlos Carvalho, Vasco Célio e Pedro Neves começaram a registar e a pensar estas imagens (“documentário visual para memória futura”, lê-se no subtítulo) não era ainda certo que o livro viesse a ganhar uma existência física e a dignidade de boas impressões entre capas duras. A fundação de uma associação (com o irónico nome Duelo do Silêncio, só escolhido porque estava disponível no registo, a custo zero) para iniciarem um processo de crowdfunding foi a solução encontrada. Na prática, funcionou como uma pré-venda dos livros (ao preço de €25, inferior ao que será praticado agora) que permitiu pagar os custos de produção, e serviu ainda para receberem donativos maiores, algumas vezes anónimos.
Os lançamentos públicos deste Projeto Troika estão marcados para 12 de dezembro no Espaço AXA, Porto (com apresentação do assistente social José António Pinto, mais conhecido como Chalana) e para 13 de dezembro, na Fábrica Braço de Prata, em Lisboa.