Quando estou indecisa, costumo falar com os meus familiares e colegas, para me ajudarem a clarificar as ideias.
Noutro dia fiquei magoada porque me disseram que não valia a pena darem-me conselhos, se eu nunca os sigo e acabo por fazer outra coisa completamente diferente. É verdade que já me aconteceu esquecer-me de algo que me sugeriram e eu achei boa ideia, mas depois acabei por seguir outro caminho, não me lembro do porquê. Nunca me ocorreu que isto fosse mal visto e senti-me criticada e culpada. Eu até costumo dar bons conselhos, quando mos pedem, mas nunca me preocupei em verificar se foram seguidos ou não.
Há alguma coisa que eu possa fazer para lidar melhor com situações deste tipo?
Cara leitora,
Se esta experiencia teve algum mérito, foi o de fazê-la reflectir um pouco acerca de si e dos outros. A sensibilidade social desenvolve-se nas interacções e ter-se-á apercebido, provavelmente, de algo que se repete na forma de comunicar, que está a merecer-lhe agora atenção. Haverá pessoas mais sensíveis, que respondem negativamente ao que interpretam como sentimento de rejeição. Se tem alguma proximidade com elas e conhece um pouco da sua história de vida, talvez possa partir daí para ajustar a sua conduta relativamente a elas. Sendo todas adultas, compete a cada uma lidar com experiências insatisfatórias – do ponto de vista emocional – sem retaliar ou fazer cobranças. Compete-lhe, também a si, aceitar o facto de nem todas estarem pelos ajustes, do mesmo modo que tem a liberdade de não fazer ajustes só porque lhes desagrada a elas.
Quanto à sua maneira de abordar ambiguidade, a incerteza e a dúvida, importa dizer o seguinte: duas cabeças (ou mais) podem pensar melhor que uma, se o objectivo é comum. Não sendo o caso, a prestabilidade que lhe facultam, com o filtro mental e emocional delas, pode não ser o melhor para si, mesmo que a queiram legitimamente ajudar por a conhecerem. A sua indecisão, insegurança ou, até, medo de enfrentar os resultados de uma escolha, pode levá-la a recorrer ao exterior para “clarificar”. Para pensar com “amparo”, como se precisasse de uma rede para desempenhar uma tarefa que lhe causa ansiedade e lhe parece, então, mais exigente do que efectivamente é.
Pedir sugestões e opiniões alheias sem se comprometer com elas é positivo e, porventura, inofensivo, mas se for a sua forma de estar, é oportuno rever esse esquema de funcionamento. Por um lado, evita dar aos outros a impressão de serem como uma “loja de conveniência”, mesmo que não seja essa a sua intenção. Por outro, sendo capaz de tomar decisões após avaliar diferentes cenários, isso só revela que é capaz de pensar por si e de lidar com a complexidade que a escolha envolve (em maior ou menor grau).
Da próxima vez que se confrontar com uma situação deste tipo
, pense que é você que está na pele de dar palpites a alguém que lhos pede, por a ter em conta como boa conselheira. Repita o exercício, se não estiver certa de que o conselho é o melhor. Talvez assim consiga chegar mais longe, e sem pruridos de terceiros para gerir depois. Ajuda alheia, só em caso de emergência. Cabe-lhe a si ajuizar/escolher em que casos tal se aplica.
Clara Soares, jornalista, psicóloga e autora do blog Psicologia Clara