Para que as metas concretas desses 8 ODM fossem cumpridas, foi pedido, pelas Nações Unidas aos países doadores, um investimento de 25 mil milhões de USD/ano durante 15 anos, por isso, um total de 375 mil milhões de USD.
Tal nunca foi cumprido, como ficou claro na cimeira entre as Nações Unidas e a Sociedade Civil na mesma cidade, em Setembro de 2005. Desde então, a tendência, nada abonatória para a Comunidade Internacional, manteve-se.
Assim, no dia Mundial da Saúde, impõe-se uma reflexão sobre dois temas intrinsecamente ligados e abordados pelos Objetivos do Milénio, a fome e a saúde.
Segundo o Programa Alimentar Mundial, existem, atualmente, 842 milhões de pessoas que não têm o suficiente para comer, ou seja, 1 em cada 8 pessoas passa fome no mundo.
A fome e a malnutrição são o principal risco para a saúde mundial, um risco maior que a junção da SIDA, da malária e da tuberculose, pois a fome, quando não mata, debilita e deixa graves sequelas no desenvolvimento físico e mental.
Em função de certas carências específicas que ela engloba, vitamina A, B, C, D…ferro, ácido fólico, iodo, deixa marcas para o resto da vida, como a cegueira, neuropatias como o beribéri, escorbuto, raquitismo, anemias, bócio…
É intolerável ver morrer alguém à fome, porque já se chegou tarde demais, e enfrentar o seu olhar.
É tanto ou mais intolerável quando nunca se produziu tanto e nunca se desperdiçou tanto, deitando toneladas de alimentos para o lixo. Absurdo inaceitável.
Temos, nos nossos países sobrealimentados, as doenças da fartura (obesidade, diabetes, arteriopatias, devido ao excesso de colesterol e de tabaco…) que, em conjunto com as depressões, mais pesam em morbilidade e nos nossos orçamentos da saúde … E temos, nos países mais pobres, pessoas tão debilitadas pela fome – adultos e crianças – que não resistem a uma gastroenterite (por rotavírus por exemplo) ou a uma banal pneumopatia.
Enquanto nos nossos países se morre sobretudo de acidentes cardiovasculares, cancros, acidentes de viação e “velhice”, lá morre-se de múltiplas doenças infecciosas que silenciosamente, porque esquecidas, matam milhões de pessoas por ano!
Esse é um dos motivos, pelos quais, 5 dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio dizem respeito à Saúde, nomeadamente, o Objetivo 1: Erradicar a Pobreza extrema e a Fome; o Objetivo 4: Reduzir a mortalidade infantil; o Objetivo 5: Melhorar a saúde materna; o Objetivo 6: Combater o HIV/SIDA, a Malária e outras doenças graves; e o Objetivo 7: Garantir a Sustentabilidade Ambiental.
Infelizmente, esses objetivos também não serão atingidos em 2015, não obstante os progressos realizados na América Latina e na Ásia Meridional e a criação do Fundo Global para o HIV/SIDA, Malária e Tuberculose. Os resultados são ainda dececionantes, sobretudo na África Subsaariana por falta de infraestruturas médicas devidamente apetrechadas e uma continuada escassez de recursos humanos na área da saúde, agravada pela fuga maciça de “cérebros”.
Assim, por ano, continuam a morrer milhões de pessoas devido a doenças infecciosas esquecidas, para a erradicação das quais, pouco ou nada se investe em investigação farmacológica… As Leis do Mercado assim o obrigam! Não existindo poder de compra, não há mercado motivador e não há investigação… Daí talvez a Organização Mundial de Saúde dedicar o Dia Mundial da Saúde deste ano ao combate aos vetores responsáveis por grande parte destas doenças.
Além disso, nos últimos anos, novos surtos virais, como o ébola e o H5N1 (gripe das aves) têm vindo a ensombrar o nosso futuro coletivo, fazendo-nos temer, para já infundadamente, períodos históricos que pensávamos definitivamente afastados.
Pese embora estarmos ainda longe das metas dos objetivos para a saúde global previstos para 2015, tem havido uma evolução positiva (esperando que a atual crise financeira, económica e social não deite tudo a perder). A mortalidade infantil global, até à idade dos 5 anos, foi reduzida em 47% desde 1990 devido, sobretudo, a uma melhor re-hidratação nos casos de diarreia, a uma melhor e maior distribuição de redes mosquiteiras impregnadas de inseticida no caso da malária, a uma melhor cobertura dos planos de vacinação e à melhoria da qualidade da água e do saneamento básico.
A mortalidade materna, ligeiramente menor (decresceu 47% entre 1990 e 2010), continua elevada. Em 2010, morreram 287.000 mulheres no mundo, sendo que todos os dias morreram cerca de 800 mulheres devido a complicações da gravidez e do parto.
Os maiores sucessos em termos de saúde têm sido obtidos na luta contra a tuberculose, com a introdução generalizada da toma diária presencial (DOTS), o que levou a que entre 1995 e 2011 tenham sido salvas 20 milhões de vidas, embora cresça, sobretudo nas ex-repúblicas soviéticas, o receio da resistência do bacilo de Koch (mesmo aos tratamentos múltiplos), enquanto na África Subsaariana a associação HIV-Tuberculose se tem mostrado particularmente letal.
Na questão do acesso à água potável e ao saneamento básico houve também francas melhorias. Foram atingidas as metas do 7.º objetivo do milénio de reduzir para metade a proporção de pessoas sem acesso a fontes de água melhoradas, e de atingir até 2020, uma melhoria significativa nas vidas de, pelo menos, 100 milhões de moradores de bairros de lata.
Porém, 2,5 mil milhões de seres humanos continuam sem acesso a saneamento melhorado e estima-se que 863 milhões de pessoas viviam em bairros de lata em 2012, em comparação com 650 milhões em 1990 e 760 milhões em 2000.
Muito trabalho resta, pois, por realizar…
Na agenda pós-2015, que já está a ser desenhada pela ONU e pela comunidade internacional (governos e sociedade civil) e que se espera seja adotada na cimeira que irá decorrer em setembro de 2015, está bem patente a importância de dar continuidade ao trabalho iniciado pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. Mas é igualmente imprescindível que não seja ignorada a fulcral relevância de haver vontade política para atingir as metas propostas e não deixar que se resumam a belos adornos de um qualquer discurso.
Cada ano que passa sem uma atuação global determinada, e se possível decisiva, diminui a hipótese de sucesso para reverter as atuais e nefastas tendências, continuando o subdesenvolvimento como um enorme desafio-ameaça à Paz.
Impõe-se, por isso, a questão: Queremos sentir-nos inspirados por palavras bonitas ou por ações concretas e resultados visivelmente melhores? Pessoalmente, e apesar de reconhecer a força das palavras, sou e sempre fui um homem de ação!