O meu namorado e eu estamos a planear ir viver juntos mas ainda temos sérias dúvidas sobre se é preferível arrendar ou comprar uma casa. Sempre ouvi dizer que arrendar uma casa é deitar dinheiro à rua, mas é mesmo assim ou as coisas estão diferentes?
Laura S., Alcoutim
Em Portugal, e ao contrário do que acontece noutros países europeus, tem existido um estigma significativo sobre o arrendamento habitacional, a meu ver prejudicial para uma análise clara das vantagens e desvantagens em relação à aquisição.
Falando antes de mais dos aspectos económicos, ao compararmos comprar com arrendar é preciso perceber que na primeira situação os reais valores envolvidos são de difícil apuramento, enquanto no arrendamento a margem para surpresas é bem menor. De facto, na aquisição de uma casa é necessário contemplar não só o preço da mesma mas também os impostos (e.g., IMT e IMI), juros e sua variação, nos casos em que existe recurso a crédito, seguros, condomínio, manutenção e reparação, e outras despesas relacionadas com o imóvel, além de que é praticamente impossível saber à partida qual o valor do imóvel daqui a 5 ou 10 anos. Já no arrendamento, teremos tipicamente apenas de ter em conta o valor da renda e eventuais actualizações da mesma.
Em termos de flexibilidade, o arrendamento apresenta vantagens inegáveis face à aquisição. A família aumentou? Mudou de local de trabalho? Vai emigrar? Ganha menos e quer mudar para uma zona mais económica? No caso do arrendamento, com relativa facilidade é possível denunciar o contrato e encontrar nova habitação. No caso da aquisição, é preciso arranjar um comprador (o que é cada vez mais difícil) e pagar comissão ao angariador imobiliário, além de que se estiver com pressa o potencial para assumir perdas aumentará certamente. E se for comprar nova casa, pagar outra vez mais impostos…
Historicamente também se associou a aquisição de imóveis à obtenção de mais-valias significativas na venda posterior, que frequentemente eram ilusórias. Antes de mais, no cálculo de tais mais-valias é frequente incluir-se como custo apenas o preço da habitação, quando existem muitos outros valores envolvidos, como atrás vimos. Adicionalmente, o efeito da inflação sobre as mesmas raramente é apresentado, o que necessariamente as tornaria bem mais magras.
Apesar da presente resposta se centrar nas vantagens do arrendamento, a aquisição também tem o seu lugar, que não deve ser descurado. Em particular, e para além de eventuais factores de ordem emocional e cultural relacionados com a propriedade, economicamente a aquisição apresenta vantagens quando se pretende manter o imóvel durante períodos alargados de tempo (superiores a 5-7 anos), uma vez que permite diluir no tempo alguns custos significativos iniciais (e.g., IMT) e suportar possíveis oscilações de valor, especialmente se a tal aquisição estiverem associados os seguintes factores: recurso a fundos próprios e/ou crédito especialmente “barato”, mercado de arrendamento com baixa oferta e pouco competitivo, meios financeiros alternativos, e significativa estabilidade familiar e profissional.
Em suma, e embora a análise do arrendamento vs. aquisição possa ser vista de vários ângulos, a minha recomendação, em termos genéricos, é que casais jovens optem preferencialmente pelo arrendamento, optando pela aquisição numa fase posterior da vida, quando as questões familiares, profissionais e de localização estiverem definidas de forma mais permanente.