Sou casada, trabalho e tenho um filho com 14 anos. É um bom aluno, sociável e nunca nos deu problemas. Desde que mudou de escola, noto que está diferente. Mal chego a casa, encontro-o agarrado ao computador. Responde torto quando o questiono sobre o que está a fazer e lhe pergunto como correu o dia. Fecha a porta do quarto e diz que vai estudar, mas eu passo o tempo a ouvir o som das trocas de mensagens do telemóvel.
Há dias, quando o meu marido chegou a casa, perto da uma da manhã (ele trabalha por turnos), deu com o nosso filho a teclar e acabaram os dois a discutir. Eu cheguei ao quarto e tirei-lhe o computador. Desde então, o clima não anda bom cá em casa. O que devo fazer?
Fernanda R.
Lembra-se daquela expressão “Socorro! Tenho um filho adolescente”? A boa notícia: O seu filho entrou na adolescência. Por fazer parte da geração dos “Nativos digitais”, a interatividade online (ou por sms) estará para ele como os telefonemas e contactos offline para a geração anterior. O uso das tecnologias não é problemático, desde que sejam asseguradas condições para navegar em segurança e não comprometa rotinas saudáveis.
Deixo algumas questões que merecem ser equacionadas:
Eventuais sinais de abuso – ou dependência – da tecnologia? Avalie se há um foco exagerado do seu filho no mundo virtual, falta de sono, ou sono irregular. E se, quando ele fica privado dos seus gadgets, apresenta nervosismo ou mal-estar. Aqui será necessário definir limites de uso, mas atenção: a medida servirá de pouco se não a aplicar também a si e a quem viver lá em casa.
Tensão gerada pelas mudanças a que é preciso adaptar-se em família? Há que por cartas na mesa: fazer cedências nuns casos, estabelecer limites e explicar as consequências, noutros, prevenindo situações de escalada ou conflitualidade excessiva.
O facto de o seu filho ser bom aluno, além de ter um grupo de pares fora de casa, são sinais de crescimento a valorizar. É natural que surjam, nesta fase de crescimento, novos desafios (mudanças hormonais e ao nível do cérebro, comportamentos de oposição e exploração da capacidade de autonomia). Fechar a porta do quarto é típico da chamada ‘idade do armário’ (“sou mais crescido e quero estar sozinho”). Deixe-o experimentar outras formas de relacionar-se em casa e não leve tão a peito os testes que ele possa fazer à autoridade parental, normais nesta fase.