Depois de ter mandado retirar um dos três cartazes pagos por um grupo de cidadãos que se reuniu na internet para homenagear as alegadas vítimas de abusos sexuais por elementos da igreja católica, a autarquia da Oeiras deu um passo atrás, nesta quinta-feira. Reuniu-se com os responsáveis pelo movimento, disponibilizou um dos outdoors da Câmara e já deu “orientação aos serviços do município para a reposição da lona, no local escolhido pela associação, na rotunda da antiga Praça de Touros, em Algés”, confirmou, a autarquia, por escrito à VISÃO.
O cartaz – onde se pode ler, em inglês, “4800+ crianças abusadas pela Igreja Católica”; frase acompanhada por 4 815 pontos vermelhos – um por cada uma das vítimas – esteve mais de 24 horas apreendido. Foi na madrugada de quarta-feira que o grupo afixou três cartazes iguais em espaços de destaque nos três principais concelhos organizadores da JMM: em Lisboa (na Alameda, logo à saída do metro), em Loures (perto do tribunal) e em Algés (na estação de comboio). E só o último foi retirado.
O executivo liderado Isaltino Morais assumiu que “toda a publicidade ilegal é retirada, neste e em todos os casos”. Contudo, depois das criticas de censura, a autarquia não só se disponibilizou para resolver a situação, como para contribuir com o financiamento do espaço, uma vez que este pertence à Câmara.
Num comunicado enviado às redação, esta noite, Isaltino Morais reafirma que “independentemente da bondade da mensagem, a questão não é de opinião ou de moralidade, é de defesa do princípio da legalidade”, acrescentando que a autarquia não foi contactada pelos autores antes. Caso estes tivessem tomado a iniciativa, “teríamos disponibilizado um outdoor da rede municipal para o efeito”, garante.
Das acusações, o presidente defende-se dizendo: “Nunca praticámos censura, como nunca o iremos fazer. Portugal é uma república e um Estado de direito democrático. É a lei, e somente a lei, que regula as relações na nossa sociedade”.
A criação destes cartazes partiu da iniciativa de um grupo de cidadãos “com diversos credos que não quer que se esqueçam dos abusos na Igreja Católica portuguesa”, como os próprios se apresentam no site “this is our memorial” (em português e em inglês) para explicar a sua mensagem. “Não nos escondemos mas também não queremos aparecer. O foco deve estar em dar voz às vítimas, as caras a aparecer devem ser as dos responsáveis pela instituição que permitiu que este tipo de abuso fosse estrutural e, até ao momento, impune”, continuam, exigindo da igreja respostas.
“Os outdoors são um memorial, são a nossa homenagem possível às vítimas. E são uma forma de protesto não só pelos abusos que a Igreja tenta minimizar como por todos os gastos financeiros com as jornadas que o Bordallo II tão bem referiu”, explicou a designer, Telma Tavares, referindo-se ao “caminho da vergonha” (uma passadeira feita de notas de 500 euros) que Bordallo II estendeu na escadaria do palco principal da JMJ, como forma de protesto.