“Escreva-me”, implora o vice-rei da Índia, Vasco Fernandes, numa carta enviada a Juliana Dias da Costa, em 1715. “Já passou muito tempo”, acrescenta o representante do rei D. João V no território colonial, admitindo que Portugal lhe deve muitos favores e sem omitir a esperança de que ela continue a interceder pelos interesses nacionais no coração do Império Mogol.
A influência desta devota católica portuguesa no reino muçulmano, que poucas décadas antes havia erguido o Taj Mahal e chegou a ser o mais rico do mundo na transição para o século XVIII, está documentada na correspondência trocada com os governantes do Estado Português da Índia. Já estes, nas comunicações com o rei, em Lisboa, apelidam-na de “procuradora”, alguém que, insistem, é necessário proteger e estimar. Da boa convivência com os vizinhos crentes do Islão, cujos domínios se estendem por quase todo o subcontinente indiano e por terras hoje pertencentes a Afeganistão, Bangladesh e Paquistão, depende o futuro dos enclaves ainda em mãos portuguesas naquelas latitudes, informam as mais altas esferas políticas da região.