“O Fábio [Loureiro] não está bem, mas já esteve muito pior”, relata, à VISÃO, fonte próxima do homem que fugiu de Vale de Judeus, para acabar detido numa cadeia de alta segurança nos arredores de Rabat, capital de Marrocos. O advogado português de Fábio “Cigano”, como também é conhecido, lamenta as “histórias” que “não têm correspondência com a realidade”, contadas nos média, sobre um recluso algemado 24 horas por dia, sem direito a visitas nem a Sol. “É tudo mentira”, sublinha Lopes Guerreiro. O advogado admite, porém, à VISÃO, que “a prisão [em Marrocos] não é fácil” e que o português “deseja regressar a Portugal, o mais rápido possível”. A família responde que “não fala até esta situação [da extradição] estar resolvida”, que vai “expor e falar toda a verdade” não revelada, mas apenas quando o homem pisar outra vez território nacional.
Fábio Loureiro, 33 anos, fugiu de Vale de Judeus com mais quatro reclusos – Fernando Ribeiro Ferreira, Rodolf José Lohrmann, Mark Cameron Roscaleer e Shergili Farjiani –, no dia 7 de setembro, quando cumpria pena de 25 anos por crimes de tráfico de droga, associação criminosa, extorsão, branqueamento de capitais, injúria, furto qualificado, resistência e coação sobre funcionário e condução sem habilitação legal. Mas Fábio até pode ficar mais tempo atrás das grades, devido a quatro condenações sucessivas (que perfazem 44 anos).
Durante um mês inteiro, o homem natural do Carvoeiro (Lagoa), que entrou no radar da polícia ainda na adolescência, que gostava de andar armado e em carros de alta cilindrada, considerado violento e perigoso, chamado “o terror do Algarve”, pôde voltar a sentir o sabor da liberdade. A investigação das autoridades marroquinas, em colaboração com a polícia espanhola, e em estreita articulação com a Polícia Judiciária, localizou-o em Tânger, Marrocos, colocando-o novamente na prisão… marroquina.
Detido a 6 de novembro, Fábio Loureiro foi levado, menos de 48 horas depois, para a penitenciária de El Arjate, 25 quilómetros a leste da capital, Rabat, numa operação classificada, pelas autoridades marroquinas, de “segurança máxima”. A transferência apanhou família e advogados de surpresa. Naquela cadeia de alta segurança, o quotidiano “é duro”, confirma, à VISÃO, fonte prisional.
A mesma fonte relata que “há muitas cautelas” com este recluso, que “passa muito tempo na cela, sozinho”, que “tem tempo de pátio, mas sem contacto com os outros prisioneiros”, e que, de facto, “é algemado”, mas só “quando se desloca” no interior do estabelecimento prisional. “É vigado 24 horas por dia” pelos guardas prisionais, acrescenta.
Fonte próxima de Fábio Loureiro confessa que “quando ele chegou [à cadeia de Rabat], passou por alguns momentos complicados”. “Continua a sentir-se em baixo”, diz, mas “já esteve muito pior”. “É normal, não é? Não domina a língua, não conhece os costumes, não está próximo da família, não tem contacto com outras pessoas na sua condição… É um homem só”, resume a mesma fonte.
As autoridades recapturaram Fábio
e Fernando. Os estrangeiros Rodolf
Lohrmann, Mark Roscaleer e Shergili
Farjiani mantêm-se em parte incerta – são violentos e perigosos
Ainda assim, o advogado Lopes Guerreiro confirmou, à VISÃO, que Fábio Loureiro “já recebeu inúmeras visitas da família e dos advogados” na penitenciária situada nos arredores da capital de Marrocos.
A fonte prisional, ouvida pela VISÃO, descreve “um homem [fisicamente] muito diferente” das fotografias tornadas públicas pelas autoridades, “sem aquela barba densa, e muito mais magro”. “Está quase irreconhecível”, resume.
O contexto explica a vontade de Fábio Loureiro ser extraditado para o país natal, depois de, no primeiro interrogatório, ter manifestado o contrário. “Voltou atrás, naturalmente. O melhor será regressar a Portugal”, garante fonte próxima do recluso.
Lopes Guerreiro confirma que “o processo [de extradição] está terminado” e que “é apenas uma questão de tempo” para que surja uma decisão do Supremo Tribunal de Marrocos (órgão competente). A VISÃO apurou que, para já, ainda não houve conversas entre as autoridades de Portugal e de Marrocos para acertar como vai acontecer a transferência. Aguarda-se a decisão do tribunal, para, depois, se discutir a forma – a deslocação da PJ a Marrocos ou a viagem da polícia marroquina a Portugal.
Reserva para um, em Monsanto
“O Fábio [Loureiro] e a Rita S. são muito apaixonados, foi isso que os tramou”, diz, à VISÃO, fonte próxima do casal. Eram 22h, de 6 de outubro, quando os dois se reencontraram, no parque de estacionamento de uma loja de artigos desportivos, em Tânger. Fábio “não aguentava as saudades” da mulher, que viajara ao seu encontro de Portugal, via Espanha, sem se aperceber de que as autoridades seguiam no seu encalço.
Rita S. e um amigo português, que trabalharia para o fugitivo, seriam também detidos naquele momento, mas libertados logo no dia seguinte.
Ao juiz o recluso contou que entrou em Marrocos num barco privado e sem documentos. Admitiu que, assim que fugiu de Vale dos Judeus, “sabia que ia para Tânger”, por ser uma cidade onde “teria vários contactos”, alegadamente com pessoas ligadas ao narcotráfico. Vivia numa casa arrendada, montada numa cave, pela qual tinha pagado renda até final de outubro. As autoridades acreditam que Fábio dormiu pela região de Sevilha, Espanha, aproximadamente duas semanas, antes de rumar a sul. Quando regressar a Portugal, Fábio Loureiro terá cela reservada na cadeia de alta de segurança de Monsanto, em Lisboa. A fuga pode valer-lhe o aumento da pena até um máximo de dois anos.
Fábio Loureiro volta, assim, a ser “vizinho” de Fernando Ribeiro Ferreira, o segundo evadido de Vale de Judeus a ser apanhado. No passado dia 22 de novembro, uma operação “musculada” da PJ, com a colaboração da GNR, permitiu recapturar este homem, que, há duas semanas, vivia na aldeia de Castanheira da Chã, Montalegre (Trás-os-Montes). O recluso convivia com os vizinhos; e tinha na sua posse uma arma de fogo, com supressor de som. Ainda tentou escapar, mas estava totalmente cercado por mais de quatro dezenas de agentes. Condenado a 25 anos pelos crimes de tráfico de estupefacientes, associação criminosa, furto, roubo e rapto, Fernando Ribeiro Ferreira, natural de Tarouca (Viseu), 61 anos, tem uma “extensa carreira criminal”: foi preso, pela primeira vez, quando tinha apenas 16 anos; hoje, soma um longo cadastro com 11 condenações – já passou pelas cadeias de Lisboa, Alcoentre, Monsanto, Coimbra, Caxias, Caldas da Rainha, Pinheiro da Cruz, Faro, Aveiro, Porto, Paços de Ferreira, São João de Deus (hospital prisional) e Vale de Judeus, de onde se evadiu.
Entretanto, a PJ continua à procura do paradeiro dos restantes três fugitivos: Rodolf José Lohrmann, Mark Cameron Roscaleer e Shergili Farjiani (todos estrangeiros). As autoridades portuguesas contam com cooperação internacional. A investigação admite que os fugitivos podem “não ter permanecido” em território nacional.