O tribunal de Santarém condenou os brasileiros Aderaldo Neto e Nilson Neto a 12 anos de prisão efetiva e Marco António Júnior a nove anos e seis meses pelos crimes de tráfico de estupefacientes agravado e associação criminosa.
A justiça portuguesa deu como provado que os três homens lideravam um esquema para transportar, por via marítima, uma carga de 294 quilos líquidos de cocaína, dissimulada num contentor com polpa de açaí. A carga, com um valor comercial de quase nove milhões de euros, foi carregada para um navio no porto de Vila do Conde, em Barcarena (estado do Pará, Brasil), em abril de 2022. Fez escala no Paraguai e chegou a Portugal, via porto de Sines, em junho de 2022. Dias mais tarde, a polpa de açaí (e a cocaína) seria novamente transportada, agora por estrada, e depositada num armazém em Vilar dos Prazeres, no município de Ourém.
Segundo a investigação, a cocaína “já tinha comprador”, e teria como destino final o Congo. A passagem por Portugal permitiria que o transporte das drogas ficasse “mais barato” em comparação com uma viagem direta entre o Brasil e aquele país africano.
A detenção dos agora condenados aconteceu na sequência da “Operação Norte Tropical”, conduzida pela Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE/PJ), que decorreu em junho de 2022. Nilson Neto e Marco António Júnior foram os primeiros a ser detidos em Portugal. Aderaldo Neto seria apanhado no início do mês seguinte, quando tentava fugir do País e regressar à terra-natal.
À data dos factos, Aderaldo Neto era tenente da Polícia Militar do Estado do Pará (PMPA), mas seria afastado do cargo, com suspensão do pagamento do seu salário, apenas quatro meses depois, no âmbito de um processo administrativo disciplinar, aberto pela Corregedoria da PMPA. Deve, agora, ser expulso da carreira militar.
A sentença do coletivo de juízes do tribunal de Santarém destacou que “a ilicitude [dos factos provados] é elevadíssima, seja pela qualidade do produto estupefaciente que aqui esta em causa, cocaína, seja pela sua quantidade, seja, ainda, pelo valor da mesma pelo menos, como supra se deixou dito e resultou provado, mais de 8 milhões e oitocentos mil euros”.
O tribunal justificou a pena mais leve de Marco António Júnior pela “sua postura perante os factos e a sua colaboração” durante a investigação e o julgamento.
Rede ligada ao “Escobar brasileiro” e ao PCC
A investigação concluiu também que o grupo, que atuava a partir do Pará, terá usado rotas do tráfico internacional de drogas controladas pelo conhecido narcotraficante Sérgio Roberto de Carvalho, conhecido como o “Escobar brasileiro” e pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), considerado a principal e mais perigosa organização criminosa da América Latina.
O major Carvalho, como também é chamado – por ter feito parte da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul –, foi detido em Budapeste, na Hungria, em junho de 2022, numa operação que contou com a participação da Polícia Judiciária. Um ano depois, seria extraditado para a Bélgica, onde permanece detido.
Sérgio Roberto de Carvalho é ainda apontado como o “patrão” do narcotraficante português Rúben Oliveira (Xuxas), que liderava um grupo encabeçado por familiares e amigos do bairro dos Olivais, em Lisboa. Xuxas também seria detido pela PJ, apenas uma semana depois do major Carvalho.
A investigação concluiu ainda que cerca de um terço dos quase 300 quilos de cocaína deste grupo tinha sido fornecida por um narcotraficante brasileiro conhecido como “Deus é Lindo” ou “Bonitão”, que as autoridades do país sul-americano apontam como sendo integrante do PCC.