Estão entregues os prémios deste ano, que foram atribuidos a três pioneiros da agricultura sustentável pela sua contribuição para a segurança alimentar global, a resiliência climática e a proteção dos ecossistemas. O programa Andhra Pradesh Community Managed Natural Farming – na Índia –, o professor e cientista Rattan Lal e a plataforma de ONG’s SEKEM – do Egito – foram os vencedores da edição de 2024, com um prémio no valor de um milhão de euros.
Criados há cinco anos, esta distinção tem como principal objetivo realçar a diversidade de soluções no âmbito da agricultura sustentável e distinguir as pessoas – e organizações – que mais contribuem para a segurança alimentar, resiliência climática e proteção dos ecossistemas a nível global. “O Prémio Gulbenkian para a Humanidade distingue contribuições excecionais para a ação climática e soluções que inspiram esperança e novas possibilidades”, pode ler-se através de um comunicado enviado às redações. Os três vencedores deste ano irão partilhar o prémio financeiro de forma a promover os seus projetos ou apoiar outras iniciativas ligadas à agricultura sustentável.
“Queremos distinguir os vencedores deste prémio pelo seu trabalho pioneiro no domínio da agricultura sustentável e pelas soluções inovadoras para a segurança alimentar, resiliência face às alterações climáticas e proteção dos ecossistemas a nível global. Cada um dos premiados demonstrou um grande empenho na transformação das práticas agrícolas, provando que os modelos sustentáveis podem prosperar em ambientes desafiantes e diversos. O seu trabalho demonstra os benefícios da agricultura sustentável para as comunidades e para o planeta”, explicou António Feijó, Presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian.
Presidido pela antiga chanceler alemã Angela Merkel, o júri selecionou os três nomeados entre 181 candidaturas de 117 nacionalidades diferentes – o maior número de sempre de nomeações propostas para o galardão. Os três selecionados destacaram-se entre os demais pelas “abordagens distintas à agricultura sustentável, incluindo a agricultura biodinâmica, natural e regenerativa, as quais têm sido implementadas com sucesso em diversas regiões com condições climáticas adversas, demonstrando como a agricultura sustentável beneficia as comunidades, os agricultores, as economias e o planeta”, lê-se na nota libertada pela Fundação Calouste Gulbenkian.
A edição de 2024 realçou, sobretudo, a urgência dos desafios climáticos. As alterações climáticas, nos últimos anos, têm resultado na perda de biodiversidade, fenómenos climáticos extremos e a degradação dos recursos, o que gerou perturbações nos sistemas alimentares a nível mundial. “O acesso a uma alimentação de elevada qualidade nutricional é de importância vital para todos. As alterações climáticas, e o aquecimento global que daí resulta, provocaram um aumento de fenómenos climáticos extremos e põem em perigo a segurança alimentar global. Esta situação implica um desafio adicional a todos os que se dedicam ao setor agrícola. Os vencedores deste ano demonstraram, de forma exemplar, como, na prática, os sistemas alimentares sustentáveis podem contribuir para a resiliência climática”, referiu Merkel. A alimentação é um dos objetivos fundamentais de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas para este século.
Os vencedores
Lançado em 2016, o programa Andhra Pradesh Community Managed Natural Farming presta apoio a pequenos agricultores – predominantemente mulheres – na transição de uma agricultura intensiva, para uma agricultura natural “através de técnicas como utilizar resíduos orgânicos e não lavrar a terra para melhorar a saúde do solo, a reintrodução de sementes autóctones e a diversificação de culturas, incluindo árvores”, refere o comunicado. Com mais de um milhão de pequenos agricultores na região de Andhra Pradesh – onde se localiza o projeto – este é o maior programa de agroecologia do mundo ao permitir aos agricultores “um aumento na produtividade das colheitas, bem como melhores rendimentos e vantagens para a saúde” bem como gerar “benefícios ambientais e sociais ao sequestrar mais carbono no solo, reverter a degradação do solo, reduzir a sua temperatura e aumentar a biodiversidade”, refere. Implementado pela organização sem fins lucrativos Rythu Sadhikara Samstha, o programa é liderado por Vijay Kumar e conta com a mentoria de Nagendramma Nettemm formadora de agricultores de referência do programa.
O segundo premiado Rattan Lal, cientista e professor de Ciência dos Solos na Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, é um “precursor de uma abordagem centrada no solo, que harmoniza a produção alimentar com a preservação ecológica e a mitigação das alterações climáticas”. Lal tem contribuído para o desenvolvimento do conhecimento na área da agricultura sustentável e da resiliência climática ao promover a investigação e a educação em matéria de gestão sustentável dos solos. “As suas metodologias evidenciaram, a nível global, a interligação entre a saúde dos solos e o bem-estar ambiental e humano em geral, bem como a importância de promover a segurança alimentar ao mesmo tempo que se conservam os recursos naturais”, lê-se no comunicado.
Também a SEKEM foi distinguida: uma plataforma – criada há quase 50 anos e dirigida por Helmy Abouleish – de ONG’s e empresas que promovem abordagens holísticas no combate às alterações climáticas na região desértica do Egito. Com trabalhos desenvolvidos no domínio da alimentação e da agricultura, a SKEM foca-se sobretudo na promoção das “práticas regenerativas” e destaque dos “benefícios conexos de soluções baseadas na natureza, tanto para o solo como para as comunidades”, lê-se no comunicado. A principal iniciativa no âmbito da agricultura regenerativa da SEKEM é a Associação Biodinâmica Egípcia [EBDA], que presta apoio na transição de modelos agrícolas convencionais para modelos agrícolas regenerativos. Dirigida por Naglaa Ahmed, “até à data, a EBDA apoiou cerca de 10 000 agricultores e converteu mais de 12 000 hectares de terra”, lê-se.
O Prémio Gulbenkian para a Humanidade, iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian, distingue, há cerca de cinco anos, indivíduos e organizações que contribuem para a luta contra as alterações climáticas e a destruição da natureza. A cerimónia de entrega decorre no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian e conta com a presença de Vijay Kumar e Nagendramma Nettem, Rattan Lal, Helmy Abouleish e Naglaa Ahmed.