Um ex-gestor da Santa Casa Global – empresa criada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para gerir o projeto de internacionalização do jogo – denunciou à PSP o que classificou como ameaças para o condicionar. Em causa, de acordo com o auto de notícia a que a VISÃO teve acesso, estão dois telefonemas: um para o colégio da filha e outro para o seu telemóvel.
De acordo com o relato de Ricardo Gonçalves, ouvido recentemente no Parlamento, no dia 16 de maio, alguém se fez passar pela sua mulher, de nacionalidade brasileira, telefonando para o colégio da filha e dando instruções às educadoras para não darem comida à criança, uma vez que esta teria um exame durante a tarde. Na chamada, a interlocutora referiu ainda que a “filha” não iria frequentar a aula de ballet.
Quando a educadora enviou uma mensagem à verdadeira mãe, pedindo para recolher a filha mais cedo, já que iria dar o lanche às restantes, e aquela podia ficar incomodada, a mulher de Ricardo Gonçalves respondeu com surpresa total, já que não percebia a razão do contacto.
De acordo com o ex-gestor, depois de perceber o que se tinha passado, a situação gerou algum alarme no colégio da criança, com a direção a tentar obter o número do contacto fictício, mas em vão.
Um dia após este episódio, Ricardo Gonçalves, segundo o seu depoimento, declarou ter recebido um telefonema, sem identificação do número, no qual uma voz masculina o insultou e o mandou “falar com o António”.
Além de comunicar estes factos à PSP, Ricardo Gonçalves – que não respondeu ao contacto da VISÃO – comunicou ao seu advogado, António Garcia Pereira, o sucedido, considerando que ambas as situações denunciadas à PSP visam desestabilizá-lo e condicioná-lo “no que possa vir a fazer no processo referente à SCML e internacionalização”.
Ricardo Gonçalves entrou para os quadros da SCML em 1995 como administrativo, tendo depois exercido várias funções na instituição até à sua saída. É posteriormente chamado pelo então vice-provedor Edmundo Martinho – quando o provedor era Pedro Santana Lopes – para gerir a internacionalização dos jogos sociais. Quando Edmundo Martinho assumiu a liderança, foi nomeado, juntamente com Francisco Pessoa e Costa, como administrador da Santa Casa Global e da Santa Casa Global no Brasil.
Ouvido, no início do mês, na Comissão de Trabalho e Segurança Social do Parlamento, o ex-gestor, entretanto demitido por Ana Jorge, afirmou que o seu afastamento foi sem justa causa e decorreu de forma caluniosa.
De acordo com o ex-administrador da Santa Casa Global, há “registo de todas as movimentações financeiras” do processo de internacionalização e disse mesmo ter “dificuldade em perceber” como é que a consultora BDO alega que deixou de ter acesso a informações necessárias à realização da auditoria forense.
Ricardo Gonçalves afirmou que toda a informação relativa à internacionalização, inclusive as ‘due dilligences’ (processo de investigação de uma oportunidade de negócio que o investidor deverá aceitar para poder avaliar os riscos da transação), está na Santa Casa.