Os artistas americanos Drake, de 37 anos, e Kendrick Lamar, de 36 anos, têm uma disputa que já dura há mais de uma década. Mas a polémica ganhou novos contornos no fim de semana passado, com lançamentos de várias músicas, de ambos os lados, repletas de ataques e indiretas um para o outro.
Mas Drake e Kendrick Lamar nem sempre tiveram uma má relação. Durante a fase inicial das suas carreiras, no início da década de 2010, os rappers colaboraram frequentemente nos discos um do outro. Kendrick Lamar apareceu pela primeira vez ao lado de Drake, em 2011, numa participação no álbum “Take Care”. Ambos colaboraram também na canção “Poetic Justice”, pertencente ao segundo álbum de Drake “Good Kid, M.A.A.D City”, lançado em 2012. “Poetic Justice” seria um sucesso comercial, atingindo o 26º lugar na Billboard Hot 100. Para além disso, Kendrick marcou também presença na digressão “Club Paradise”, que o rapper canadiano realizou no mesmo ano, ao lado de outros artistas como A$AP, K. Dot e 2 Chainz. Pouco depois da digressão, as colaborações entre ambos terminaram e as indiretas líricas presentes nas suas músicas começaram.
O primeiro sinal de problemas parece ter surgido por volta de 2013, quando Lamar surge numa canção de Big Sean, intitulada “Control”. Na letra da música o rapper e compositor americano faz várias referências Drake, bem como outros rappers na canção. Na altura, Drake respondeu através de uma entrevista na Billboard, dizendo: “Eu não tinha nada a dizer sobre isso. Pareceu-me apenas uma ideia ambiciosa. Foi só isso. Sei muito bem que [Lamar] não me está a matar, de forma alguma, em nenhuma plataforma. Por isso, quando esse dia chegar, acho que podemos voltar a falar do assunto”.
Março de 2024
Depois de anos de indiretas nas letras das canções de ambos, o conflito voltou a ganhar forma este março deste ano, quando Kendrick Lamar voltou a referir Drake numa das suas músicas mais recentes. Através de uma colaboração surpresa na canção “Like That”, com a autoria do artista Future e produção de Metro Boomin – ambos antigos colaboradores de Drake – Lamar volta a reacender a disputa, ao invocar uma música de Drake lançada em 2023. Nos seus versos, Lamar invocou a canção “First Person Shooter” – do último álbum do Drake – que conta com a colaboração do rapper J. Cole. Na mesma, J. Cole refere-se a si próprio, Drake e Lamar como os “Três Grandes” do Hip Hop moderno. Lamar, que não terá apreciado o verso, replicou em “Like That” que não existem “Três Grandes” rappers, apenas ele próprio, “Just Big me”. Ademais, apelidou-se a si próprio como o “Prince” para o “Michael Jackson” de Drake – um artista mais profundo e complexo versos um “hitmaker” problemático e orientado para a música Pop.
“Like That” passou três semanas no primeiro lugar da Billboard Hot 100, enquanto Future e Metro Boomin alcançaram também o topo das tabelas de streaming com os respetivos álbuns – “We Don’t Trust You” e “We Still Don’t Trust You”.
Já em abril, Drake lançava uma nova “Diss track” – termo dado às músicas entendidas como ataques diretos – dirigida a Lamar. Na canção, intitulada “Push Ups”, o rapper troça do rival ao mencionar a sua altura, número de calçado e negócios, alegadamente, falhados de bitcoin.
Menos de uma semana depois, após não receber qualquer tipo de resposta por parte de Kendrick Lamar, Drake lançou “Taylor Made Freestyle”, apenas nas redes sociais. Na faixa, Drake acusa o cantor de ter medo de publicar músicas na mesma altura em que Taylor Swift lançava o seu novo álbum – o novo álbum da cantora foi lançado a 19 de março – bem como o acusa de recorrer a filtros de Inteligência Artificial para imitar as vozes dos artistas Tupac e Snopp Dogg nas suas canções. “Desde “Like That”, o teu tom mudou um pouco, não estás tão entusiasmado. Como é que não estás na cabine? Parece que te afastaste”, pode ouvir-se Drake.
“Taylor Made Freestyle” foi mais tarde retirada das redes sociais depois de Drake ter sido acusado pela família e património de Tupac Shakur de usar a voz do rapper, falecido em 1996, gerada através de Inteligência Artificial. Drake foi então obrigado a retirar “Taylor Made Freestyle” de todas as plataformas públicas.
Mas o que alegadamente desencadeou uma nova escalada do conflito entre ambos a que se assistiu no último fim de semana terá sido um verso em “Taylor Made Freestyle” que incluía o nome da namorada de Lamar, Whitney Alford. O rapper lançou quatro novas faixas, na semana passada, recheadas de referências e ataques diretos a Drake, que foi respondendo aos ataques. As músicas de Lamar – que totalizam os 20 minutos – tiveram um grande alcance, acumulando milhões de streams. Apenas três faixas – “Euphoria,” “Meet the Grahams” e “Not Like Us” – foram disponibilizadas comercialmente, estando previsto que cheguem ao topo da tabela de singles da Billboard na próxima semana.
A nova escalada do conflito
“Euphoria”, terça-feira, 30 de abril
Com mais de seis minutos de resposta, a nova escala de tensão entre ambos começou através de “Euphoria”, lançada na passada terça-feira. “Sei que és um mestre da manipulação e também um mentiroso habitual. Mas não digas nenhuma mentira sobre mim e eu não direi verdades sobre ti”, avisou Lamar. Na mesma faixa, Kendrick acusou Drake de copiar a herança negra americana questionando também a posição de Drake enquanto pai de um menino de 6 anos. “Odeio a forma como andas, a forma como falas, odeio a forma como te vestes. Odeio a forma como te esgueiras, se eu apanhar um voo, vai ser direto”.
“6:16 em LA”, sexta-feira, 03 de maio
Dias depois, Lamar lançou a segunda – de quatro – músicas de ataque. A “6:16 em LA”, publicada apenas no Instagram, foi produzida por Jack Antonoff, o principal colaborador de Taylor Swift. Na canção, o rapper deu a entender que tinha alguém infiltrado na equipa de Drake, estando sempre a par dos passos seguintes do adversário. “Falso rufia, odeio rufias, deves ser uma pessoa terrível. Toda a gente dentro da tua equipa está a sussurrar que tu mereces”, canta.
“Family Matters”, sexta-feira, 03 de maio
Contudo, Lamar não ficou sem resposta durante muito tempo. Na mesma noite, Drake publicou na sua conta pessoal de Instagram pequenos excertos de uma nova música e vídeo clip intitulado “Family Matters”. Na música, Drake refere-se ao rapper rival como um “falso ativista” e acusa-o de alegadas agressões físicas à namorada Whitney Alford. “Mencionaste a minha semente, agora lida com o pai dele/Tenho de me dar mal, tenho de me dar mal. Eles contrataram uma equipa de gestão de crise para limpar o facto de teres batido na tua rainha. O quadro que pintaste não é o que parece/estás morto”.
“Meet the Grahams”, sábado, 04 de maio
Nem meia depois Kendrick Lamar saía com uma resposta. “Meet the Grahams” foi lançada quase de imediato, acusando Drake de ter cruzado uma linha “no momento em que chamou o nome da minha família”. Através desta faixa, Lamar dirige-se diretamente aos pais e ao filho de Drake, apelidando-o de ser um “mentiroso” e “pervertido”, e dizendo que este devia “morrer” de forma a tornar o mundo mais seguro para todas as mulheres. Lamar foi ainda mais longe, acusando o rapper de ter sido pai de uma menina, secretamente, há mais de uma década. Uma acusação que Drake rapidamente negou, através da rede social Instagram, antes de voltar a lançar uma nova música no domingo.
A faixa é a mais agressiva da troca de insinuações entre ambos, com Kendrick a alegar que Drake tem problemas com álcool, jogos de azar e comparando-o a Harvey Weinstein, acusado de abusos sexuais.
“Not like us”, sábado, 04 de maio
Menos de 24 horas depois o rapper lançou a quarta – e última – faixa contra Drake com “Not Like Us”. A música faz referências às tradições do rap, como insultos, alegações infundadas e ameaças de violência. Lamar termina questionando a autenticidade de Drake como rapper, chamando-lhe um “ganancioso” e “artificial” enquanto “não um colega”, mas um “colonizador”.
“The Heart Pt. 6”, domingo, 05 de maio
A saga terminou domingo à noite, quando Drake respondeu novamente. Em “The Heart Part 6”, Drake negou a acusação de que se aproveitava de mulheres jovens, indicou que tinha plantado informações falsas sobre a sua suposta filha e apelidou a luta entre ambos como sendo “um bom exercício”. “É bom sair, pôr a caneta a trabalhar. Serias um concorrente à altura se eu fosse mesmo um predador. Sabes, pelo menos os teus fãs estão a receber alguns raps de ti. Fico feliz por vos ter conseguido motivar”, canta.
Em “The Heart Pt. 6”, de cinco minutos, Drake desmascarou as alegações de que tem uma filha e que foi ele quem, de facto, atraiu Lamar para receber informações falsas sobre a sua alegada filha. “Planeámos durante uma semana e depois demos-te a informação/ Uma filha com 11 anos, aposto que ele a leva/ Pensámos em dar um nome falso ou um destino/ Mas tu estás tão sedento, que não te preocupas com a investigação”, canta Drake.