Vamos ter 50 deputados de um partido de extrema-direita na Assembleia da República. Que lugar ocupa o passado autoritário em Portugal?
Penso que esse passado ocupa um lugar em Portugal. Esta votação do Chega, com 50 deputados, não tem só que ver com esse facto, mas sobretudo com um ciclo global de subida e ascensão da extrema-direita populista, racista e xenófoba. Portanto, Portugal, aí, não se distingue do resto da Europa nem do resto do mundo. O facto de o 25 de Abril ter sido uma rutura provocada pelos militares, através de um golpe de Estado que depois se transformou numa revolução, atrasou a entrada da extrema-direita no arco político.
A memória coletiva está em permanente mudança em função das realidades do presente?
Penso que sim. As realidades do presente têm muita influência na forma como pegamos na memória coletiva e como ela é formada. Por mais que recordemos o que se passou, através de livros de História, conferências ou filmes, a realidade presente é sempre aquela que tem mais influência. E o presente é a ascensão, em todo o lado, do populismo de extrema-direita.