É sabido que o Papa Francisco não reúne consenso na Igreja Católica, devido às suas posições progressistas. Uma ala mais conservadora e tradicionalista lida mal com a atitude inclusiva do Sumo Pontífice argentino, por exemplo em relação a oferecer a bênção a casais do mesmo sexo, prática recentemente autorizada pelo Vaticano. Mas daí a desejar-lhe a morte, ainda mais numa “montra” global como é o YouTube – à vista, portanto, de todos quantos quiserem ver -, vai uma grande distância.
É o que parece ter acontecido, no entanto, numa tertúlia entre vários padres católicos, a maioria hispânicos, emitida em direto, na semana passada, na conhecida plataforma de vídeos online, o que está a provocar indignação na vizinha Espanha. Tudo começou quando o sacerdote anfitrião, Francisco J. Delgado, apresentou o seu correligionário da arquidiocese espanhola de Toledo, Gabriel Calvo Zarraute, e logo este diz rezar “muito pelo Papa, para que possa ir para o céu o quanto antes”.
Delgado tenta retirar a carga negativa destas palavras, sublinhando ser algo que se “pode pedir para qualquer pessoa”, e chama de imediato à conversa o padre norte-americano Charles Murr, que afirma: “Eu também me uno às orações do padre Gabriel para o Santo Padre.” Enquanto todos sorriem – estavam presentes outros dois sacerdotes espanhóis e mais um norte-americano -, Gabriel recupera a palavra e acrescenta: “Somos muitos com essa intenção.” Ao que o anfitrião responde: “Pois a ver se rezamos com mais força, enfim.” Por fim, entra em cena o sétimo padre, o mexicano Juan Razo, que declara: “Estou como o padre Murr. A-T-M. A toda a máquina” – que é como quem diz “a toda a velocidade”.
Toda esta sequência, que acontece dos cinco aos sete minutos de uma transmissão com mais de duas horas (clique para ver), provocou ondas de choque nas redes sociais e chegou, depois, aos meios de comunicação social espanhóis, obrigando os responsáveis do programa semanal “Tertúlia sacerdotal contrarrevolucionária” a desdobrarem-se em mensagens para tentar justificar o sucedido. Assumindo o “mau gosto” das palavras, alegam que estas foram proferidas “num tom de humor” e que em nenhum momento “expressam desejos de morte ao Papa, como alguns meios difundiram maliciosamente”.
Na rede social X, ex-Twitter, lamentam “o desconserto ou o escândalo” que possam ter causado “nas almas sensíveis que encontram formação e consolo” no programa, mas sublinham que não pedem desculpa a quem se aproveitou de um “deslize” para atacar “toda a mensagem” que transmitem. “A esses que Deus os perdoe”, escrevem.
Em comunicado citado pelo La Vanguardia, a arquidiocese de Toledo informou ter entrado em contacto com os padres em questão para os pressionar no sentido de apresentarem um pedido de desculpa, por palavras consideradas “lesivas da comunhão da Igreja e que escandalizam o povo de Deus”. Em cima da mesa, acrescenta a nota de imprensa, estão “outras medidas punitivas em relação àqueles que são chamados a ser ministros de Cristo”, deixando ainda a garantia de que Toledo está ao lado do Papa Francisco.