A Geração Z pode surpreender quem espera que as novas gerações sejam mais progressistas ou revolucionárias. É verdade que isso se regista em todas as sociedades ocidentais entre as mulheres que nasceram entre 1997 e 2012. Contudo, os homens que nasceram na mesma época têm demonstrado ideologias e comportamentos mais conservadores do que o das gerações anteriores. Isso reflete-se nos comportamentos sociais, nas relações familiares e nas escolhas políticas.
É dentro deste grupo da população que existe maior ativismo por causas climáticas, questões de identidade de género ou libertação sexual, sendo também entre esta geração que se assiste a um regresso a valores do passado. “A Geração Z procura uma visão política que satisfaça a sua nostalgia por temas que nunca conheceu: o casamento, a vida paroquial ou o orgulho nacional”, diz Imogen Sinclair, diretora do New Social Covenant Unit, um grupo do Reino Unido defensor dos valores familiares, em declarações à revista New Statesman.
Para Bobby Duffy, diretor do Policy Institute do King’s College, em Londres, “este é um padrão incomum”. “A tendência é que as gerações mais novas se tornem cada vez mais confortáveis com as normas sociais emergentes, uma vez que cresceram com estas como uma parte natural das suas vidas”, explica ao The Guardian.
Entre os homens da Geração Z, há uma grande franja que ainda acredita que existe uma igualdade de género que desfavorece as mulheres, contudo, também há quem veja o feminismo como prejudicial. Segundo dados obtidos durante o mês de agosto de 2023 pela Ipsos, uma multinacional francesa de estudos de mercado, 16% dos homens entre os 16 e 29 anos acredita que o feminismo não traz benefícios, ao contrário de 38% que diz que é benéfico.
Rosie Campbell, professora do Global Institute for Women’s Leadership do King’s College diz que “o facto de esta geração ser a primeira a obter a maior parte das suas informações através das redes sociais é, provavelmente, uma forma de justificar esta posição”. “Os jovens ouvem muito sobre o feminismo, mas não compreendem o que é, não entendem, por exemplo, o que é desigualdade no trabalho ou no cuidado dos filhos”, acrescenta, ao The Guardian.
Em contrapartida, estes jovens acabam por criar ligação com personalidades, políticas, comportamentos e ideais que têm uma maior ligação a valores considerados machistas.
Um estudo apresentado em 2022 pelo The Survey Center on American Life, instituto que estuda a vida dos norte-americanos, concluiu que homens e mulheres entre os 18 e 29 anos têm perceções diferentes de temas como pornografia, aborto ou igualdade de género, com eles a demonstrarem escolhas consideradas mais conservadoras.
De um modo geral, o estudo conclui que os jovens reconhecem problemas associados à distribuição online de pornografia, mas os homens demonstram menos vontade de restringir o acesso. Os jovens do sexo masculino dizem apoiar a vontade das mulheres de trabalharem fora de casa e de efetuar uma divisão igual do trabalho doméstico, mas são mais cautelosos ao assumirem a liderança para executar as tarefas. Trinta e oito por cento dos homens desta geração acreditam que “a sociedade fica melhor quando homens e mulheres se dedicam aos empregos e tarefas para os quais são naturalmente adequados”.
O The New York Times fez uma sondagem a uma amostra a homens americanos de diferentes faixas etárias e concluiu que os jovens da Geração Z continuam a fazer muito menos tarefas domésticas que as companheiras. Segundo Claire Cain Miller, jornalista especializada em estudos de género e responsável por conduzir esta sondagem, quase metade dos jovens disse que é importante que os outros os vejam como masculinos e viris, uma percentagem de resposta maior do que a que foi obtida nos grupos mais velhos. “A masculinidade está fortemente ligada à ideia de ganhar o ordenado e evitar tarefas consideradas femininas”, afirma ainda Miller, o que explica o motivo para as mulheres continuarem a assumir grande parte das tarefas domésticas.
Richard Reeves, autor do livro “Boys and Men”, diz que os jovens lutam para encontrar motivação e um significado para as suas vidas, numa sociedade onde se assiste ao enfraquecimento dos laços sociais, apatia nas ambições profissionais e sentimentos generalizados de solidão. Procuram saber onde se enquadram numa realidade que enfrenta mudanças rápidas, tentam adaptar-se às novas normas sociais, a novos requisitos comportamentais, vivem incerteza quanto ao futuro devido à precariedade, à crise na habitação e às alterações climáticas.
Perante esta desorientação, os jovens masculinos da Geração Z procuram agarrar-se a modelos positivos e encontram respostas para algumas das suas inquietações em modelos conservadores.