Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, anunciou em meados deste mês que o País estava no bom caminho para alcançar uma meta antes do tempo previsto: “Estamos a 7,6% de atingir os 27 mil milhões de euros em receitas no turismo – menos de metade do crescimento registado entre 2022 e 2023”. Em 2021, o objetivo para 2027 partia de um valor de 18 mil milhões de euros de receitas.
NA VISÃO DESTA SEMANA
DOSSIER ESPECIAL: GRANDES VIAGENS PARA ABRAÇAR O MUNDO
Antes, já Nuno Fazenda, secretário de estado do Turismo antecipava os recordes nacionais de 2023 com 77 milhões de dormidas (mais 11% do que em 2022, mais 10% do que em 2019) e mais de 25 mil milhões de euros em receitas turísticas, um aumento de 37% face a 2019.
Nas contas do Banco de Portugal, ainda sem os dados dos últimos 31 dias de 2023, os proveitos totais dos alojamentos turísticos estavam em 23.713,13 milhões de euros, ou seja, mais 3.864,48 milhões de euros do que em igual período de 2022, um aumento de 19,4%, o que corresponde a um novo recorde para o turismo nacional.
A sede de descoberta promete um ano de recordes no turismo internacional. De acordo com o Global Travel Intentions Study 2024, da Visa, mais de 70% dos que viajam estão conscientes do aumento do custo das férias, mas não se retraem – apenas 4% planeiam reduzir as deslocações. Ao nível mundial, os consumidores esperam fazer, pelo menos, duas viagens nos próximos 12 meses. E vai viajar-se muito neste ano, com as projeções da Organização Mundial de Turismo (OMT) a apontarem 2024 como o ano de recuperação para os níveis pré-pandémicos – está previsto um aumento de 2% em relação a 2019.
A OMT registou, no ano passado, cerca de 1,3 mil milhões de viagens, com o continente europeu no topo das preferências – foi a região mais visitada do mundo, atingindo 94% dos níveis de 2019. Segundo o Eurostat, gabinete de estatística da União Europeia, houve 2,92 mil milhões dormidas (mais 6,3% do que em 2022 e mais 25% do que há uma década).
Este vaivém de turistas movimentou 1,4 triliões de dólares (cerca de 1,3 biliões de euros) de receitas do turismo internacional, cerca de 93% dos 1,5 triliões de dólares (perto de 1,4 biliões de euros) ganhos pelos destinos em 2019.
Sonhar não custa
No último inquérito do Índice de Confiança do Turismo da OMT, 67% dos profissionais do setor do turismo têm perspectivas melhores ou muito melhores para 2024 em comparação com 2023.
Por cá, a Confederação do Turismo de Portugal prevê um crescimento entre 2% e 3% no transporte aéreo (movimento nos aeroportos nacionais) e um aumento de 1,4% nas dormidas (resultantes de mais 2% nas dormidas de estrangeiros, mas o mesmo valor de 2023 nas dormidas de turistas nacionais).
Nas previsões para 2024 da Cushman & Wakefield, empresa de serviços imobiliários comerciais, estão incluídos cem novos projetos hoteleiros em Portugal, em fase de projeto e/ou construção – mais de 10 200 quartos que deverão abrir num prazo de três anos. A maioria terá classificações de quatro (30%) e cinco (38%) estrelas, localizando-se nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.
“2023 foi o melhor ano de sempre para o setor hoteleiro devido, não só a uma subida na taxa de ocupação dos hotéis, mas sobretudo à subida do preço médio praticado”, sublinha fonte a APHORT – Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo.
Apesar das “subidas constantes do nível da procura e da receita”, mas tendo em conta a “diminuição do poder de compra de grande parte dos europeus”, “sendo Portugal considerado um destino seguro, próximo e com uma boa relação qualidade-preço, temos alguns dos nossos associados hoteleiros a perspetivar um ano de 2024 com um crescimento na ordem dos 5% a 7%, sustentado sobretudo na subida da receita média”, acrescenta.
Daqui a 12 meses, o município de Lisboa conta ter arrecadado uma receita fiscal adicional de 1,2 milhões de euros, resultado da nova taxa turística cobrada aos operadores dos navios de cruzeiros que cheguem a Lisboa – dois euros por cada passageiro que desembarque na capital.
Em 2023, passaram pelo Porto de Lisboa 758 328 passageiros, mais 54% face a 2022, batendo o recorde de 2018 (577 603), o que gerou mais de 83 milhões de euros de impacto económico direto. Embarcaram 102 680 pessoas, estiveram em trânsito 554 324 e desembarcaram 101 324.
O conjunto dos aeroportos portugueses também atingiu um novo recorde. Os aeroportos da Vinci em todo o mundo registaram, em 2023, um tráfego de 267 150 milhões de passageiros (uma subida de 26% face a 2022, 4,3% abaixo de 2019). Por cá, a empresa que gere uma dezena de aeroportos no país contabilizou 66 332 milhões de passageiros (33 649 em Lisboa, 15 205 no Porto, 9 640 em Faro, 4 837 na Madeira e 2 996 nos Açores), um aumento de quase 20% face a 2022 e 12,2% acima de 2019.
Veremos como a inflação, o custo de vida, o poder de compra, as taxas de juro, as guerras na Europa e no Médio Oriente e as eleições políticas um pouco por todo o mundo poderão interferir na decisão de fazer as malas e partir à descoberta do mundo.