Tendo em conta a importância da quadra natalícia no que toca à promoção de sentimentos e a aproximação de pessoas, o Observatório da Solidão do Centro de Investigação e Intervenção Interdisciplinar do Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo (ISCET), desenvolveu um estudo de algumas das vivências da época, através de um inquérito junto de cerca de 400 pessoas de diversas regiões, atividades e escalões etários e setores de atividade de todo o País.
Do universo de pessoas que participaram, 62% consideram que o Natal permanece como uma festa religiosa, mas 76% reconhece que é sobretudo uma celebração que promove o consumo. Porém, apesar da azáfama dos presentes, 86% continua a fazer o presépio, a árvore de Natal e outras decorações natalícias, embora apenas 15% participe em iniciativas religiosas. É natural, quando 60% afirma não professar ou praticar a religião cristã.
Além disso, 94% dos respondentes organiza ou participa em ceias de Natal, 99% nas suas casas ou nas de familiares ou amigos – só 1% escolhe restaurantes para o fazer. Mesmo assim, em média, cerca de 32% dos inquiridos aproveita também o Natal para fazer férias, prática que aumenta para 45% entre os jovens e para mais de 53% entre os mais velhos.
“O Natal continua a ter uma importância pessoal relevante na grande maioria dos portugueses, verificando-se e repercutindo-se nas vivências que marcam o quotidiano desta quadra, muito especialmente através da ceia doméstica e da partilha familiar que suscita a sua comemoração. Permanece o simbolismo humanista, nomeadamente pela predominância da convicção de que promove a solidariedade, presume-se, entre as pessoas individualmente e no âmbito das comunidades nacionais e internacionais, sobretudo no que se reporta aos desígnios e ao imaginário da paz”, conclui-se no estudo recentemente revelado.
Receber e voltar a dar
Apesar do inegável carácter consumista desta época festiva, há uma tendência tem vindo a ganhar adeptos: o regifting, o nome que se dá quando as pessoas escolhem vender prendas às quais não ligam. Segundo os resultados de um inquérito da Cash Converters, cerca de 40% das pessoas já aderiu, pelo menos uma vez, a esta prática.
Embora não seja uma tendência recente, a consciencialização ambiental, o desejo de reduzir o desperdício e de realizar algum dinheiro extra tem impulsionado esta atividade. Em vez de se acumular presentes inúteis, reutilizam-se e redistribuem-se produtos, com a intenção de aderir a um estilo de vida mais sustentável. Mas nem só de boas intenções se faz esta prática.
Segundo a Cash Converters, as razões que levam as pessoas a venderem um presente são a procura de dinheiro extra (36,22%), o prazo de devolução expirado (12,67%), talões de troca perdidos (7,13%), impossibilidade de receber reembolso monetário (10,98%), pela indisponibilidade da loja (6,58%) ou por saberam qual a loja em questão (9,85%).
“A pressão para dar presentes caros e extravagantes diminui à medida que as pessoas se concentram mais na intenção por detrás do gesto do que no valor monetário. Amigos e familiares abraçam a ideia de que o valor não está necessariamente vinculado ao preço, mas sim ao significado e à consideração. O regifting não é apenas uma forma de reutilizar presentes, mas também uma maneira de repensar o consumismo desenfreado e cultivar uma mentalidade mais verde e consciente.”, afirma Sérgio Pintado, CMO da Cash Converters.
O inquérito revelou ainda que 53,29% das pessoas estará disposta a praticar regifting este ano, 15,36% não o fará e 31,35% tomará essa decisão dependendo da pessoa que lhes ofereça o presente.
Menos dinheiro, menos presentes
Este ano, porém, haverá mais contenção nas ofertas, conclui a 15º edição do estudo Compras de Natal, realizado pelo Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM). Em 2023, 56,8% dos inquiridos afirma que alterou os hábitos de consumo, no que se refere à redução de custos com compras de Natal (40,8%) e à diminuição do número de pessoas que vai presentear (36,7%). Verificou-se uma previsão de descida face a 2022 – haverá menos 5,5% de despesas nesta época, num total de 356 euros.
Na redução, destacam-se menos decorações natalícias (86%), bem como menor quantidade de presentes para os adultos (81%). Ainda há 33% dos inquiridos a afirmar que fará reduções nos produtos alimentares específicos de Natal (em 52% dos casos deve-se ao aumento do preço generalizado dos bens).
De destacar que 23% dos respondentes afirmou que não vai comprar nada no Natal. Em relação aqueles que o irão fazer, nos agregados familiares com filhos, estes serão contemplados com presentes em100% dos casos. De resto, 60% adquire lembranças para o cônjuge, 59% para os pais, irmãos e outros familiares. Apenas em 27% das respostas existe a intenção de comprar prendas para amigos.
As compras online são a opção preferida de 26% dos portugueses. Depois, vem o centro comercial (19%), seguido do comércio de rua (12%). No entanto, há vários consumidores que preferem aliar as diferentes opções.
“Ao longo dos últimos anos temos verificado oscilações significativas no comportamento dos consumidores face às compras de Natal, em linha com os diversos indicadores referentes à situação económica e financeira do país”, conclui Mafalda Ferreira, coordenadora deste estudo, que todos os anos põe em evidência as tendências de consumo natalícias.