Para combater a desinformação, as pessoas são frequentemente aconselhadas a verificar a veracidade das afirmações através de pesquisas online. Mas existia pouca evidência empírica a sustentar esse conselho. Um estudo, conduzido pelo Centro de Redes Sociais e Política da Universidade de Nova Iorque, mostra que fazê-lo pode, pelo contrário, aumentar a convicção de que artigos falsos ou enganosos são verdadeiros, um efeito provocado por resultados de pesquisa de baixa qualidade. Publicado na revista Nature, o trabalho mostra cinco experiências onde são apresentadas provas consistentes desta validação de desinformação pelos motores de busca, em percentagens consideráveis.
Os investigadores descobriram que este fenómeno está concentrado entre indivíduos para os quais os motores de busca devolvem informações de qualidade inferior. “Isso aponta para o perigo que os ‘data voids‘ – áreas do ecossistema de informação que são dominadas por notícias e informações de baixa qualidade, ou mesmo completamente falsas – podem estar a desempenhar um papel importante no processo de pesquisa on-line, levando a um baixo retorno de informações confiáveis ou, o que é mais alarmante, ao aparecimento de informações não confiáveis no topo dos resultados de pesquisa”, sublinha Kevin Aslett, um dos líderes da investigação.
As primeiras quatro experiências testaram os seguintes aspetos do comportamento e impacto da pesquisa online: O efeito das pesquisas online para avaliação de notícias na crença em notícias falsas ou enganosas e verdadeiras dois dias após a publicação de um artigo (artigos populares falsos incluíam histórias sobre as vacinas Covid-19, o processo de impeachment de Trump e eventos climáticos); se o efeito das pesquisas online pode mudar a avaliação de um indivíduo depois de já ter avaliado a veracidade de uma notícia; o efeito das pesquisas online meses após a publicação da notícia; o efeito deste comportamento em notícias recentes sobre um tema relevante com cobertura noticiosa significativa – no caso deste estudo, notícias sobre a pandemia de Covid-19.
Uma quinta experiência combinou uma pesquisa com dados de rastreamento da web para identificar o efeito da exposição a resultados de mecanismos de pesquisa de baixa e alta qualidade na crença na desinformação. Ao coletar resultados de pesquisa usando um plug-in de navegador personalizado, os pesquisadores puderam identificar como a qualidade desses resultados de pesquisa pode afetar a crença dos usuários na desinformação que está sendo avaliada.
As classificações de credibilidade da fonte do estudo foram determinadas pelo NewsGuard, que classifica sites de notícias e outras informações, a fim de orientar os usuários na avaliação da confiabilidade do conteúdo que encontram online.
Nas cinco experiências, os autores descobriram que o ato de pesquisar online para avaliar notícias levou a um aumento estatisticamente significativo na crença na desinformação. Isso ocorreu logo após a publicação da desinformação ou meses depois.
Esta descoberta sugere que a passagem do tempo – e aparentemente as oportunidades para a verificação de factos entrarem no ecossistema de informação – não diminui o impacto das pesquisas online para avaliar notícias no aumento da probabilidade de acreditar que notícias falsas são verdadeiras. Além disso, a quinta experiência mostrou que este fenómeno está concentrado entre indivíduos para os quais os motores de busca devolvem informação de qualidade inferior.
“As descobertas destacam a necessidade de os programas de alfabetização mediática fundamentarem as suas recomendações em intervenções testadas empiricamente e de os mecanismos de busca investirem em soluções para os desafios identificados por esta pesquisa”, conclui Joshua A. Tucker, outro dos autores do estudo.