Luís Maria Gonçalves está em Genebra, na Suíça. O dia tem sido passado entre reuniões, pois são vários os assuntos para debater e decidir depois de um grupo de profissionais portugueses, arquitetos e engenheiros, vencer o concurso público internacional para a recuperação e ampliação da Biblioteca de Genebra.
Concorreram 53 equipas da Europa, sobretudo de ateliês da Suíça, França, Alemanha e Itália e o projeto Larnage, da autoria do estúdio de arquitetura português VASSCO, ACE em conjunto com a Adão da Fonseca – Engenheiros Consultores (Pedro Morujão), ficou em primeiro lugar.
O atual edifício do século XIX, construído em estilo neoclássico entre 1868 e 1873 (arquitetos Jean Franel e Francis Gindroz), começou por ter cinco pisos. Inicialmente, em 1559, foi desenhado para albergar a Universidade de Genebra e para esse fim a área era suficiente, “para esse número de volumes estava adequado”, como explica à VISÃO, Luís Maria Gonçalves, um dos arquitetos envolvidos no projeto, juntamente com Patrícia Marques, Paulo Costa, João Ventura Trindade e Pedro Oliveira.
Com o passar dos anos, os cinco pisos cresceram para uma dezena e várias mezzanines e lajes intermédias foram sendo anexadas, de modo a guardar e conservar cerca de 1,5 milhões de documentos. Recuperar a forma original do edifício do século XIX era uma das premissas do concurso.
Para tal, é necessário passar todo o acervo para um novo edifício, desta vez, enterrado. São 22 300 metros quadrados (um pouco mais de dois campos de futebol), ao longo de seis pisos subterrâneos.
As salas de leitura que tinham deixado de existir, à medida que foram sendo ocupadas por volumes de todo o espólio, também serão devolvidas ao público, como “salas de leitura nobres e confortáveis”.
O grande pormenor que fez com que o projeto Larnage fosse escolhido, por unanimidade pelo júri, é a ligação que pretende criar entre a biblioteca (no pátio dos Bastiões) e o Parque dos Bastiões e da Rua De-Candolle – uma zona muito usada e visitada pela população da cidade. Será uma ampliação com cafetaria e mais salas de leitura, mais informais, detalhes que o júri valorizou na nova relação criada entre o edifício e o parque. “Até agora o edifício estava divorciado do parque”, reforça Luís Maria Gonçalves. Depois, será um lugar “propício à implantação de programação cultural e científica”.
Por juntar planos de arquitetura e de engenharia civil é considerado um projeto pluridisciplinar.
As obras, com início previsto para 2027 – um investimento total de 130 milhões de euros – serão o ponto de partida para a redefinição paisagística do traçado do pátio dos Bastiões, para a substituição dos dois anexos da biblioteca por “dois novos pavilhões contemporâneos, leves e transparentes”.
Serão sete anos de obras, para concluir a recuperação e ampliação da biblioteca, desenvolvidas em duas fases: primeiro, será construído o novo edifício dos arquivos, praticamente todo enterrado; uma vez concluído o edifício dos arquivos, o acervo da biblioteca será para aí transferido e o edifício existente será reabilitado e ampliado.
A Biblioteca de Genebra é uma instituição da cidade suíça fundada no século XVI, atualmente com uma coleção de dois milhões de documentos (70 mil documentos em 1872). Do acervo fazem parte 150 mil impressões raras e preciosas, anteriores a 1850, incluindo 500 incunábulos (obras impressas antes do século XVI); os arquivos de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), incluídos no Registo da Memória do Mundo da UNESCO; a primeira coleção mundial de obras de e sobre Voltaire (1694-1778).