Fragmentos da “rocha mais perigosa do mundo” – um termo atribuído pela NASA – chegaram ao Reino Unido para serem estudados. Investigadores britânicos receberam cerca de 100 mg de material recolhido do asteroide Bennu, com mais de 4,6 mil milhões de anos. “Cem miligramas de beleza”, descreveu Sara Russell, professora do museu, à BBC News. A amostra, enviada pela NASA, pode ajudar a resolver mistério por detrás da formação do sistema solar.
Do tamanho de uma “colher de chá”, os fragmentos de asteroide terão sido recolhidos da superfície do asteroide pelo robô espacial Osiris-Rex, em 2020, e enviados para a terra através de uma cápsula que aterrou no estado americano do Utah há cerca de dois meses. Ao contrário de outros meteoritos – que se despenharam na Terra e cuja composição se terá alterado na passagem pela atmosfera – os pedaços rochosos e de pó deste exemplar foram trazidos para a Terra em condições imaculadas, o que permite aos cientistas estudar um asteroide praticamente inalterado.
Os fragmentos, que estão a ser estudados por investigadores de todo o mundo, vão ser alvo de testes pelo Museu de História Natural Britânico, bem como pelas Universidades de Open, Manchester e Oxford. O museu alberga uma das maiores coleções de meteoritos do mundo e possui técnicos experientes no manuseamento de pequenas quantidades de materiais. A equipa britânica do museu pretende conhecer que tipos de materiais estão presentes na rocha e em que quantidades.
Os primeiros dois anos de investigação no Museu de História Natural vão centrar-se em testes não destrutivos, como a difração de raios X e a microscopia eletrónica. Será utilizada a maior máquina de XDR do Reino Unido, capaz de produzir feixes brilhantes de raios X, de forma a aumentar a sensibilidade e resolução de imagens. “Somos invulgares na medida em que temos uma instalação de XRD que nos permite fazer experiências que outros talvez não consigam. Também temos uma coleção incrível de minerais, o que significa que temos todos os padrões e podemos fazer as comparações que nos ajudarão com os nossos cálculos”, explicou Ashley King, do Museu de História Natural.
Mistério da formação do sistema solar

Embora pequenos, a amostra pode significar novas descobertas para a ciência. As primeiras análises conduzidas pela NASA mostram que os pedaços do material do Bennu são ricos em carbono e água, com algum do carbono ligado a compostos orgânicos, o que representa uma vitória para os cientistas, uma vez que confirma algumas teorias existentes sobre a formação do sistema solar. Segundo a hipótese colocada, asteroides ricos em carbono e água – semelhantes ao Bennu – podem ter estado envolvidos no fornecimento de componentes-chave ao sistema terrestre. Os cientistas esperam que a investigação os ajude a compreender melhor a formação do sistema solar e o envolvimento dos asteroides no mesmo, ao fornecerem quantidades substanciais de água à Terra e outros planetas, facilitando, assim, o início da vida terrestre.
Ademais, a agência espacial americana pretende estudar extensivamente a composição do asteroide, até porque existe o risco de o mesmo colidir com a terra nos próximos 300 anos – estima-se que as hipóteses de tal catástrofe acontecerem serão de 1 em 1.750. Para além das questões relacionadas com as nossas origens cósmicas, os cientistas esperam utilizar as amostras de forma a estudar possibilidades de desvio ou destruição de asteroides que representem uma ameaça para a Terra. Com dimensões de grande porte, o asteroide Bennu, ao colidir com a terra, provocaria danos significativos.
Cientistas de todo o mundo, envolvidos na pesquisa, esperam apresentar um relatório sobre o seu trabalho inicial na Conferência de Ciências Lunares e Planetárias, marcada para o próximo mês de março. Espera-se também que dois importantes artigos de síntese com as principais conclusões do estudo sejam publicados na mesma altura na revista científica Meteoritics & Planetary Science.
Não se sabe ao certo o tamanho da amostra recolhida pelos NASA, contudo, parte da amostra recolhida do asteroide será guardada no arquivo da NASA, de forma a salvaguardar o seu estudo por gerações futuras, com tecnologias que, provavelmente, serão mais avançadas que as agora disponíveis.