1. Os primeiros anos
Nasceu em 1931 em Melbourne, Austrália, numa família dedicada à imprensa, criado por um pai, Sir Keith Arthur Murdoch, que acreditava que os jornais eram um dos mais importantes instrumentos a favor da liberdade. Após a sua morte, em 1952, Rupert Murdoch deixou os estudos em Oxford, Inglaterra, e regressou à Austrália para tomar conta do negócio familiar. “Aos 22 anos vi-me como proprietário de jornais. Era tão jovem que, quando cheguei pela primeira vez ao parque de estacionamento, disseram-me que não podia parar o carro ali”, contou. Vendeu parte para pagar as dívidas, mas conseguiu preservar a empresa News Limited, proprietária do Adelaide News, jornal que transformou num enorme sucesso. A partir daí, adquiriu outros títulos locais australianos e, em 1964, criou o primeiro jornal nacional do país, The Australian. Assim começou um império.
2. A aventura inglesa
Em 1968, rumou ao Reino Unido para comprar o News of the World e, pouco depois, o The Sun, que se tornou o maior sucesso de vendas britânico. Murdoch conquistou a alcunha de Dirty Digger, pela aposta em páginas sensacionalistas e repletas de sexo. Não olhava a meios para obter um furo, tendo acumulado escândalos e controvérsias, desde o caso Profumo (que abalou a política britânica) à publicação dos diários de Hitler (que mais tarde se revelaram falsos).
Interferiu inúmeras vezes no rumo da História, sendo inegável a influência exercida no mundo da política – entre outros, apoiou Margaret Tatcher, Tony Blair, David Cameron, Theresa May. “Temos mais responsabilidade do que poder”, afirmou, numa entrevista. “Um jornal pode criar grandes controvérsias, suscitar discussões dentro da comunidade… pode lançar luz sobre injustiças, assim como pode fazer o contrário, pode esconder coisas e ser uma grande força do mal.”
O estilo agressivo estendia-se igualmente à forma de gerir o negócio. Em meados da década de 1980, enquanto proprietário dos jornais londrinos Times e Sunday Times, quebrou o domínio dos sindicatos sobre a indústria gráfica do país. Ao mudar, de o dia para a noite, para sistemas informatizados, levou centenas de gráficas a ficarem sem trabalho.
Em 2011, foi obrigado a fechar o News of the World, um dos jornais mais antigos e mais vendidos da Grã-Bretanha, por força das alegações de espionagem ilegal a vítimas de assassinatos e terrorismo, políticos e celebridades, a quem teve de pagar indemnizações milionárias.
3. A conquista da América
Os lucros conquistados em terras de Sua Majestade foram investidos, em meados dos anos 80, nos interesses televisivos e cinematográficos de Murdoch nos Estados Unidos, onde criou o gigante empresarial News Corp, proprietário do influente Wall Street Journal, o diário de maior circulação da América, e do New York Post. Neste último, nunca foi totalmente bem-sucedida a importação do modelo dos tabloides britânicos. A murdochização da América tem como melhor exemplo o canal de notícias Fox News, esse sim, o tabloide da política americana, lançado em 1966 para reclamar a bandeira do conservadorismo. Ali, o volume é sempre estridente e os preconceitos são explorados sem vergonha, mas a fórmula conquistou audiências e ofuscou os rivais.
No documentário da BBC Quem tem medo de Rupert Murdoch?, de 1981, Robert Spitzler, ex-editor-chefe do New York Post, disse que o papel de Murdoch ia além de comentar e sugerir: “Rupert escreveu manchetes, Rupert moldou histórias, Rupert ditou os rumos das histórias… Rupert estava em toda parte.” Mas ninguém põe em causa o seu brilhantismo nos negócios. “É difícil pensar em qualquer outro indivíduo que tenha tido um impacto maior na cultura política e mediática dos Estados Unidos no último meio século”, escreveu Carl Bernstein, um dos repórteres do caso Watergate.
4. Vida familiar
Tem 6 filhos: Prudence, do seu primeiro casamento com Patricia Booker; três do casamento com Ana Torv (Elisabeth, Lachlan e James), de quem se divorciou em 1999; e duas filhas mais novas (Grace e Chloe) do casamento com Wendi Deng. Foi ainda casado, entre 2016 e 2022, com Jerry Hall, ex-modelo que ficou conhecida pelo seu relacionamento com Mick Jagger. Em 2023, anunciou o noivado com Ann Lesley Smith, mas acabou por cancelá-lo duas semanas depois.
Os três filhos do segundo casamento cresceram próximos do negócio de família e passaram pelo menos parte de suas vidas a disputar a sucessão do pai. Os amigos de Murdoch costumavam dizer que não tinha criado filhos, mas futuros magnatas dos media.
5. A sucessão
Era um dos temas mais debatidos, capaz de alimentar a melhor ficção – como a imperdível série da HBO, Sucession. Ao longo dos anos, os herdeiros foram ocupando posições estratégicas nas empresas do pai, sucedendo-se aproximações e afastamentos. A escolha recaiu sobre o filho mais velho, Lachlan Murdoch, de 52 anos, mantendo-se Rupert como conselheiro e presidente emérito da News Corp e da Fox Corporation. “Agradecemos-lhe a sua visão, o seu pioneirismo, a sua determinação e a herança que deixa às empresas que fundou e a inúmeras pessoas”, disse Lachlan Murdoch num comunicado emitido na semana passada.
Uma decisão tomada após um período especialmente conturbado, em que a Fox News foi obrigada a pagar 787,5 milhões de dólares à Dominion, empresa de máquina de votos eletrónicos, pelas queixas infundadas de fraude eleitoral durante e após a eleição presidencial americana de 2020. Esta foi a maior indemnização paga nos EUA no âmbito de um acordo extrajudicial. De lado ficou também, há uns meses, o plano de fusão da Fox e da News Corp, reprovado pelos acionistas.