Não foi no Brasil nem em Portugal (onde vive há 8 anos) que a paixão da brasileira Natália Guilherme pelo triatlo surgiu. No Equador, onde viveu três anos, a fundadora da Women’s + viu um vídeo de dois triatletas amadores a competirem pela primeira vez no mundial do IronMan no Havai, confessando que “foi amor à primeira vista” e que pensou imediatamente que iria conseguir fazer o mesmo.
Pouco tempo após ter sido introduzida ao IronMan, Natália, de 39 anos, já tinha uma bicicleta e um treinador e, cinco meses depois, fez o seu primeiro half IronMan, ou IronMan 70.3, no Equador. “Desde então, não parei mais”, conta.
As provas de um IronMan completo consistem em 3,8 quilómetros de natação, 180 quilómetros de ciclismo e 42,2 quilómetros de corrida, enquanto nas provas do IronMan 70.3 as distâncias são encurtadas para 1,9 quilómetros a nadar, 90 quilómetros a pedalar e 21,1 quilómetros a correr.
Acabada de regressar do campeonato do mundo do IronMan 70.3 na Finlândia, Natália recorda a sua primeira prova com muito carinho. É pela realização pessoal que confessa não parar de treinar e, por esse motivo, quando acaba uma prova, já tem outra em vista. O triatlo é para a atleta, “o motor que faz com que tudo o resto funcione”.
Numa semana normal, Natália encaixa 13 a 17 horas de treino a nadar, a correr e a pedalar. “É um grande desafio manter a tríade de equilíbrio entre a vida pessoal, a saúde mental e o bem-estar físico”, diz ainda.
A fundadora da Women’s + explica ainda que, como ela, todas as mulheres do grupo têm vidas para além do triatlo. “Temos uma advogada, uma assistente de bordo, uma humanitária, uma fotógrafa… todas temos os nossos trabalhos, as nossas famílias. O triatlo às vezes é a terceira ou quarta coisa da vida de cada uma. Encontramos tempo, dentro de tudo o fazemos para ter uma rotina de treino. Precisamos ou de um escape ou de realização pessoal e acho que o desporto traz isso. Nós temos isso em comum”, explica.
Ana Mata, membro da Women’s +, tem 52 anos, é assistente de bordo e pratica triatlo há 30, o que a torna uma das mulheres mais antigas do desporto em Portugal. Competiu nos seus 20 anos, mas confessa que o trabalho “levou a melhor” devido ao crescente número de voos na década de 90.
Apesar de nunca ter deixado de nadar e correr, o seu regresso às competições foi impulsionado pelos seus filhos, que muito novos se inscreveram numa escola de triatlo, o que fez ressurgir a sua paixão. Além disso, foi aconselhada pela sua médica a voltar ao triatlo e a praticar o máximo de desporto possível para lidar com o stress. Pouco tempo depois, inscreveu-se na prova do half IronMan.
Segundo Ana, de 52 anos, o triatlo “é um modo de levar a vida” e os seus horários de trabalho não a impedem de treinar, quer chegue a casa de madrugada ou de manhã: a sua rotina passa sempre por desfardar, descansar e, de seguida, retomar os seus treinos.
Para Ana Mata, a Women’s + também é parte do seu dia-a-dia. A grande admiração por todas as que integram o grupo e a motivação que partilham é a força que todas utilizam para continuar. “Nós não somos de ferro, apesar de fazermos IronMan’s, somos pessoas normalíssimas”, brinca.
Parte da sua realização pessoal também surge ao motivar os outros à sua volta, especialmente os assistentes de bordo mais jovens. Para Ana, é essa a essência do projeto Women’s +. “É para isso que as Women’s + servem, para motivar outras pessoas, mais as mulheres porque, infelizmente, são um grupo ainda muito mais pequeno do que os homens a praticar desporto. Somos mulheres a quererem puxar outras mulheres.”
Recentemente, concretizou o sonho de competir no campeonato do mundo IronMan 70.3, em Lathi, na Finlândia, graças ao seu primeiro lugar, no seu grupo, no IronMan 70.3 em Provence, na França, e a sua alegria é visível. “Competi com as melhores mulheres do mundo e fui uma delas!”, exclama Ana.
As mulheres da Women’s + pretendem conscencializar para a “necessidade do empoderamenro feminino no desporto”. Nas palavras da fundadora, o mote do projeto é “tentar inspirar e atrair mais mulheres”, dentro do que cada uma delas faz, para o desporto, “para que elas se desafiem e sejam o que quiserem”.
“Parece muito utópico dizer uma coisa destas, ou muito fácil, mas é uma mensagem que fica na cabeça e que incomoda. Não quer dizer que, ao começar a fazer triatlo, a sua vida mude, mas é um ponto de início de uma nova vida, de algo novo”, acrescenta ainda Natália.