Ouviu, pela primeira vez, falar em sida em junho de 1984. A morte do cantor António Variações resgatou do submundo o vírus da imunodeficiência humana (VIH), quase um ano depois de se registar o primeiro caso da infeção em Portugal. Apesar disto, o assunto continuava distante para Amílcar Soares, 68 anos. Variações viajava e a sida era estrangeira. Era norte-americana. Era assunto na Time e na Newsweek. Revistas que o então companheiro de Amílcar Soares, a trabalhar na TAP, lhe trazia dos Estados Unidos e que, desde 1981, acompanhavam a evolução da epidemia caracterizada pela supressão do sistema imunológico, inicialmente e de forma errada associada à comunidade homossexual. Chamavam-lhe “o cancro gay”.
Dois anos depois de, no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, ter sido encontrado o primeiro caso em Portugal, em outubro de 1983, Amílcar Soares foi diagnosticado com o vírus que é transmitido através do sangue, de fluidos sexuais ou de leite materno e que, na sua fase mais avançada, se traduz na síndrome da imunodeficiência adquirida (sida). Estatisticamente, está entre os primeiros 30 infetados portugueses. Numa altura em que o diagnóstico soava a sentença de morte.