Carlos Monteiro chama-lhe o “ponto de êxtase”: o equilíbrio perfeito entre sal, gordura, açúcar e acidez, capaz de ativar muito rapidamente as zonas de recompensa imediata do cérebro, gerando uma sensação de saciedade, mas só depois de ingerida uma grande quantidade do “alimento”. Escrevemos a palavra entre aspas porque os ultraprocessados são mais “substâncias” ou “compostos químicos” do que comida – não retiramos deles os nutrientes de que precisamos para viver. A sua única riqueza está mesmo nas calorias.
O epidemiologista e investigador da Universidade de São Paulo, especialista em alimentação, nutrição e saúde pública, analisou o aumento da obesidade no Brasil, à medida que a fome ia desaparecendo. Mas não a deficiência nutricional. No início dos anos 2000, as famílias estavam a comprar cada vez menos óleo, açúcar e sal, e a venda de arroz e de feijão também diminuía. Ao invés, aumentava a compra de biscoitos, refrigerantes, macarrão instantâneo, embutidos e salsichas. Comida pronta a comer, que já não precisava de óleo, açúcar e sal para ser confecionada. “Produtos industrializados que não se consegue fazer na cozinha. Não eram os alimentos processados tradicionais, tipo queijo, pão ou conservas; eram produtos difíceis de identificar de que alimento derivavam”, sublinha o especialista.