A História é feita de pessoas e de figuras incontornáveis, umas com o papel de “bons da fita”, outras pelo contrário. E é nesse sentido que o historiador Simon Sebag Montefiore decidiu deixar registado “o nosso passado para conhecer o nosso presente e futuro”, no livro “Titãs da História. Heróis e Vilões que Fizeram a nossa História”.
“Ler e conhecer biografias de pessoas que, de uma forma ou de outra, fizeram a nossa história, é, fundamental”, refere. “Quando comecei este projeto tentei dividir estas personagens em bons e maus, mas percebi que isso era fútil porque muitos dos maiores – Napoleão, Cromwell, Genghis Khan, Pedro O Grande, para mencionar apenas alguns – combinaram heroísmo com monstruosidade. Neste livro deixo ao leitor tais julgamentos”.
Titãs da História. Heróis e Vilões que Fizeram a nossa História:
Pablo Escobar (1949‑1993)
Pablo Escobar, o criminoso mais poderoso, rico e assassino do século XX, foi o principal barão da droga da Colômbia, o cérebro e o líder do tráfico de cocaína a nível internacional. Acumulou milhares de milhões de dólares ao longo de uma carreira durante a qual foi responsável por centenas de raptos e assassinatos. Foi um padrinho com um poder incomparável, que ditou a sua própria lei e chegou mesmo a ameaçar a própria integridade da Colômbia enquanto país.
Era filho de um camponês e de uma professora e cresceu nos arredores de Medellín. Enveredou desde muito novo pelo mundo do crime e começou por roubar automóveis. Conta‑se que também roubava lápides, que depois limpava com jatos de areia para a seguir as vender como novas. Passou a dedicar‑se a outras fraudes, como a venda de cigarros contrabandeados e de bilhetes de lotaria falsificados, até que, no final da década de 1960, com o aumento da procura de canábis e cocaína, viu uma abertura no mercado da droga.
Durante a primeira metade da década de 1970, Escobar foi‑se impondo cada vez mais no cartel de Medellín, onde vários grupos criminosos cooperavam para controlar a maior parte da indústria do tráfico de droga
na Colômbia. Em 1975, foi assassinado um dos principais chefes criminosos de Medellín, Fabio Restrepo, e Escobar depressa tomou conta das suas operações.
Em maio desse mesmo ano, Escobar foi acusado de organizar um carregamento de droga para o Equador. Tentou subornar os juízes que presidiam ao seu caso, mas como não obteve resultados mandou então assassinar os dois agentes que o prenderam e as principais testemunhas, de modo que pôs fim ao processo. Isto acabou por se tornar um padrão, uma estratégia chamada plata o plomo (prata ou chumbo – ou aceitam o suborno ou são assassinados). Matou muitos milhares, pelas suas próprias mãos ou por encomenda,
quase sempre com uma selvajaria impressionante.
Escobar revelou‑se um político astuto, ciente da necessidade de «untar as mãos» aos políticos locais. Em Medellín também era visto como um Robin dos Bosques populista, contribuindo com pequenas mas significativas porções da sua fortuna pessoal para projetos locais de habitação social ou para clubes de futebol em dificuldades, o que lhe granjeou muita popularidade junto dos habitantes da cidade. Durante um curto espaço de tempo chegou a gerir o seu próprio jornal e em 1982 foi eleito deputado pelo Partido Liberal para a Câmara dos Representantes do Congresso da Colômbia.
No início da década de 1980, o cartel de Escobar monopolizou o tráfico de droga na América do Sul, e calcula‑se que era responsável por cerca de 80% da cocaína e da canábis enviadas para os Estados Unidos, México, Porto Rico e República Dominicana. A sua operação envolvia a compra da pasta de coca na Bolívia e no Peru, que era depois processada em «fábricas» de droga espalhadas por toda a Colômbia e em seguida enviada para fora do país, aos milhares de toneladas por semana, com destino aos Estados Unidos, por via marítima, aérea ou terrestre.
Em 1989, a revista Forbes considerou Escobar o sétimo homem mais rico do mundo, com uma fortuna calculada em vinte e quatro mil milhões de dólares. Era dono de várias casas magníficas, de um jardim zoológico privado, de vários iates e helicópteros, de uma frota de aviões privados e ainda de dois submarinos; da sua folha de pagamentos também constavam um exército privado de guarda‑costas e assassinos. Era implacável para quem o ameaçasse, mesmo que da maneira mais insignificante: quando apanhou um criado a roubar prata num dos seus palacetes, ordenou que amarrassem o azarado e o atirassem para a piscina até morrer afogado.
Não foi preciso esperar muito para que Pablo Escobar se tornasse um alvo das autoridades dos Estados Unidos. Em 1979, os EUA e a Colômbia assinaram um tratado de extradição, como parte de uma abordagem mais rígida ao tráfico da droga. Escobar odiou este tratado e desencadeou uma campanha de assassinatos contra quem estivesse a seu favor ou exigisse políticas mais rígidas contra os cartéis da droga. Pensa‑se que esteve por detrás do ataque de guerrilheiros de esquerda ao Supremo Tribunal da Colômbia em 1985, que resultou na morte de onze juízes. Quatro anos depois, encomendou o assassinato de três candidatos à presidência, a queda de um avião que vitimou 107 pessoas e o bombardeamento do edifício da segurança
nacional de Bogotá, no qual morreram 52 pessoas. Nesse mesmo ano, dois dos seus sequazes foram presos em Miami enquanto tentavam comprar mísseis.
Em 1991, à medida que a rede parecia fechar‑se à sua volta, Escobar propôs um acordo às autoridades colombianas: para evitar a extradição, aceitava ficar preso durante cinco anos. Como parte do acordo, foi‑lhe permitido construir a sua própria prisão, que obviamente acabou por ser mais um palácio luxuoso, a partir do qual conseguia gerir o seu império da droga por telefone. Estava autorizado a sair ocasionalmente, para assistir a um jogo de futebol ou ir a uma festa, e também podia receber visitas, que incluíam prostitutas (quanto mais novas, melhor) e parceiros de negócios, dois dos quais foram assassinados nas instalações – gostava de torturar pessoalmente as suas vítimas.
A 22 de julho de 1992, enquanto era transferido para uma prisão de maior segurança, Escobar conseguiu escapar. As autoridades colombianas desencadearam uma gigantesca caça ao homem, com a ajuda dos Estados Unidos e dos inimigos de Escobar, incluindo Los Pepes (Os Perseguidos por Pablo Escobar), um grupo paramilitar composto por vítimas suas e por membros do cartel de Cali, seu rival. Ao longo da perseguição, que durou dezasseis meses, foram mortas centenas de pessoas – incluindo polícias e homens da confiança de Pablo Escobar. Acabou por ser localizado num esconderijo em Medellín e baleado na perna, no tronco e na cabeça enquanto tentava uma fuga ousada por uns telhados; teve morte imediata. Isto aconteceu a 2 de dezembro de 1993, um dia depois de ter feito quarenta e quatro anos.
Os apoiantes de Escobar continuam a considerá‑lo um herói e defensor dos pobres, mas na verdade foi um monstro e um bandido de uma ganância e de um sadismo incomparáveis. Os seus simbólicos gestos de filantropia não chegaram para esconder a falta de consideração pela vida humana e o cartel que comandou foi responsável por uma média de vinte mortes por mês.