Em causa estão os vídeos publicados por um grupo de influencers, convidadas a documentar a visita a alguns dos armazéns da Shein na China, numa viagem patrocinada pela marca.
Num dos vídeos publicados, uma das convidadas, que trabalha em parceria com a Shein, Dani Carbonari (conhecida como Dani DMC no Instagram), partilhou a sua experiência numa das várias fábricas, neste caso o que o gigante da fast fashion apelida como um “centro de inovação”. Após conversar com os trabalhadores da fábrica, a influencer ficou “entusiasmada e impressionada com as condições de trabalho” e garantiu às suas centenas de milhares de seguidores que a Shein é uma empresa “desenvolvida e complexa”.
Se a ideia era promover a imagem da marca, não foi bem isso que aconteceu. A visita desencadeou uma onda de reações negativas nas plataformas das redes sociais, com vários utlizadores a mostrarem-se convictos de que se trata de uma distorção da realidade.
Uma investigação levada a cabo pelo Channel 4 denunciou que os trabalhadores da Shein recebem um salário base de 4.000 yuan por mês – cerca de 505 euros – para fazer 500 peças de roupa por dia e que o primeiro mês de salário lhes é retido; noutra fábrica, os trabalhadores recebiam o equivalente a quatro cêntimos por peça.
A marca também enfrentou críticas sobre questões ambientais e de saúde, em 2021. Segundo a CBC Marketplace, a Shein estava a vender casacos de bebés que continham quase 20 vezes a quantidade de chumbo permitida pela Health Canada para crianças.
Também o modelo de negócio de elevado consumo da Shein, impulsionado pelos seus baixos preços de vestuário. A empresa produz dezenas de milhares de peças de vestuário por dia e, segundo consta, liberta mais de 6,3 milhões de toneladas de carbono por ano, o que equivale aproximadamente a 180 centrais elétricas a carvão, de acordo com o Synthetics Anonymous 2.0, um relatório publicado sobre a sustentabilidade da moda.
#SheinHauls e a relevância do TikTok
Conhecida por utilizar influenciadoras como o ponto central da sua estratégia de marketing, a Shein apela em grande parte aos consumidores da Geração Z. O TikTok posiciona-se como uma plataforma importante nesse sentido, com vídeos de compras de roupa, que geram milhares de milhões de vizualizações- os #SheinHauls.
Em 2018, o primeiro ano em que a Shein expandiu a sua estatégia de marketing para a Índia, a empresa colaborou com cerca de 2 mil influenciadores locais, de acordo com uma entrevista com o então responsável de marketing da Shein para a Índia.
Neste recente “abrir de portas”, no que parece ser uma tentativa de limpar a imagem pública, em alguns dos TikToks, que já foram retirados do ar, este grupo de influencers é visto a falar com os trabalhadores da fábrica
“Quando lhes fiz perguntas como ‘Como é a vossa semana de trabalho?’, a maioria deles disse que trabalha das 8 às 18 horas e a deslocação é de 10 a 15 minutos, como é normal”, disse Destene Sudduth, outra das influenciadoras convidadas, num dos vídeos publicados no Instagram. “Toda a gente estava a trabalhar normalmente. Nem sequer estavam a suar”, acrescenta.