Afinal, a “bomba populacional” tão temida pode não explodir. Este é o resultado de um novo relatório da Earth4All, encomendado pela organização Clube de Roma, que prevê que a população mundial atinja um pico menor e mais cedo do que estava previsto: agora, os investigadores estimam que se chegue aos de 8,8 mil milhões de pessoas antes da metade do século, para depois começar rapidamente a cair.
As projeções da ONU até 2100 indicavam que o aumento da população aconteceria desta forma: 8,5 mil milhões em 2030, 9,7 mil milhões em 2050 e um pico de 10,4 mil milhões a partir de 2080. Depois, até ao final do século, chegaria um período de estagnação. Nestas previsões, não foram tidos em conta os fatores que determinam quantos filhos as pessoas têm, nem quanto tempo vivem.
Estas novas previsões, além de ficarem muito abaixo das estimativas das Nações Unidas, são reflexo de um estudo mais complexo, que inclui fatores ambientais, económicos e sociais, tais como os rendimentos, os impostos e a produção de alimentos, além dos impactos previstos do aquecimento global.
O mesmo relatório indica que o pico pode ser atingido ainda mais cedo caso os governos adotem medidas progressivas de aumento dos salários e redução da pobreza, investindo em empregos verdes, e de redução da desigualdade, aumentando os impostos sobre os mais ricos, por exemplo, o que evitará “explosão populacional” prevista. Além disso, é importante apostar na promoção de dietas mais saudáveis e ecológicas e em fontes renováveis, declara o documento.
Estas novas previsões são ótimas notícias para o ambiente, uma vez que, superado o pico demográfico, começa a diminuir a pressão sobre a natureza e o clima, ao mesmo tempo que as tensões sociais e políticas associadas também decrescem, prevê o relatório. Contudo, estes valores não impedem de serem atingidos os pontos de inflexão, criando riscos para os sistemas de suporte à vida da Terra, segundo David Collste, membro da equipa da Universidade de Estocolmo, na Suécia, acrescentando que “a população não é a única parte”. “É o que as pessoas fazem, como fazem e quanto fazem”, dizem os investigadores.
“Mesmo que os números não sejam tão assustadores quanto algumas previsões mais antigas, isso não significa que não tenhamos problemas”, afirma, por seu lado, Beniamino Callegari, da Kristiania University College, em Oslo, Noruega, um dos autores do relatório, citado pelo The Guardian.
Ainda de acordo com os investigadores, é necessário um “grande esforço para enfrentar o atual paradigma de desenvolvimento de superconsumo e superprodução, que são problemas maiores do que a população”. Além disso, a redução de pessoas em idade ativa pode vir a dificultar o financiamento de cuidados de saúde e reformas. “A transição não será fácil, porque significa a existência de uma grande parte da população mais envelhecida”, declara ainda Callegari.
O coletivo Earth4All foi criado para explorar as políticas que levam a um maior benefício para a maioria das pessoas.