Os adeptos da dieta cetogénica, mais conhecida por keto (vem do inglês ketogenic), preferem eliminar os hidratos de carbono, apenas 5%, apostando em gorduras, cerca de 75%, mais 20% de proteínas, para perder peso. Eliminando os açúcares como fonte principal de energia, obrigam as células a irem buscar os seus alimentos às gorduras, incluindo as acumuladas nos pontos negros da anatomia.
Quem segue o regime paleo tem uma elevada ingestão de proteína animal, de preferência gado proveniente de pastagem, fibra, potássio, vitaminas, minerais antioxidantes e fitoquímicos vegetais. O baixo consumo de hidratos de carbono e de sódio contrasta com a ingestão moderada a elevada de gorduras mono e polinsaturadas.
O novo estudo comparativo, feito por investigadores da Universidade de Tulane, em Nova Orleães, nos Estados Unidos da América, incidindo nas dietas mais populares, quer na qualidade nutricional, quer no impacto ambiental, descobriu que as dietas keto e paleo tiveram a pontuação mais baixa nesses dois parâmetros, com diferenças de mais de quatro vezes nas pegadas de carbono. Já as dietas vegana e vegetariana produzem a menor quantidade de dióxido de carbono.
Estima-se que a dieta keto, rica em gordura e pobre em hidratos de carbono, gere perto de três quilos de dióxido de carbono para cada mil calorias consumidas. A dieta paleo, que substitui leguminosas por carnes, nozes e vegetais, recebeu a segunda menor pontuação de impacto ambiental, produzindo 2,6 quilos de dióxido de carbono por mil calorias.
Publicado no The American Journal of Clinical Nutrition, o estudo compilou pontuações de qualidade das dietas usando dados de regimes alimentares de 16 412 de adultos registados na Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças.
A pegada de carbono não é menor do que em outros regimes alimentares e o valor nutricional também fica aquém das expectativas. A “nossa” dieta mediterrânica continua a ganhar pontos.
Este é o primeiro estudo a medir as pegadas de carbono de cada uma das dietas, keto e paelo, comparando-as com outras dietas comuns. “Suspeitamos dos impactos climáticos negativos porque são centrados na carne, mas ninguém realmente comparou todas essas dietas entre si, usando uma estrutura comum, pois são escolhidas pelas pessoas, em vez de prescritas por especialistas”, alertou Diego Rose, professor e diretor do programa de nutrição da Escola de Saúde Pública e Medicina Tropical da Universidade de Tulane, e autor sénior do estudo.
Os melhores resultados foram para a dieta vegana, a que tem menos impacto no clima, gerando 700 gramas de dióxido de carbono por mil calorias consumidas, menos de um quarto do impacto da dieta keto. Seguiram-se as dietas vegetarianas e pescetarianas (com 70% dos alimentos de origem vegetal e inclusão de peixe e outros produtos de origem marítima, além da possibilidade de refeições com ovos, laticínios e mel), esta última com a melhor pontuação na qualidade nutricional.
A dieta omnívora, a mais comum, representada por 86% dos participantes, também teve bom desempenho no que à nutrição e sustentabilidade diz respeito. Se um terço das pessoas com dietas omnívoras começasse a comer uma dieta vegetariana seria o equivalente a eliminar 550 milhões de quilómetros percorridos por veículos de passageiros.
Quando algumas dietas omnívoras foram substituídas pelas versões da dieta mediterrânica (com limitação de carne gorda), tanto as pegadas de carbono, como os níveis nutricionais melhoraram.
“As alterações climáticas são sem dúvida um dos problemas mais prementes do nosso tempo e muitas pessoas estão interessadas em mudar para uma dieta rica em vegetais. Com base nos nossos resultados, isso reduziria a sua pegada e seria, de forma geral, saudável. A nossa pesquisa também mostra que há uma maneira de melhorar a sua saúde e pegada ambiental sem desistir totalmente de comer carne”, exemplificou Diego Rose.
De acordo com um estudo de 2021, apoiado pelas Nações Unidas, 34% das emissões de gases com efeito de estufa vêm do sistema alimentar, a maioria sobretudo da produção de alimentos. Só a carne bovina é responsável por oito a dez vezes mais emissões do que a produção de frango e mais de 20 vezes do que a produção de nozes e leguminosas. Para Diego Rose, este estudo é importante porque “considera como os indivíduos selecionam dietas populares que são compostas por uma grande variedade de alimentos”. Mas, o professor ainda tem dúvidas sobre como estimular hábitos alimentares melhores para a saúde das pessoas e para o planeta: “Acho que a próxima pergunta a fazer é como diferentes políticas afetariam os resultados e como poderiam levar-nos a dietas mais saudáveis e ecologicamente sustentáveis?”.