Os números são preocupantes – tanto os indicadores de violência no namoro, como os que a legitimam. Uma grande fatia dos jovens participantes, 65,2%, reporta já ter experienciado um comportamento violento na sua relação de namoro. A violência psicológica (45,1%) e o controlo (44,6%) estão entre os principais indicadores de vitimação, que podem assumir a forma de, por exemplo, insultos durante discussões (35,4%), de proibições de estar ou falar com amigo ou colega (25,3%), de procura insistente (23,3%) ou de insultos através das redes sociais (19,5 por cento). O género feminino (48,5%) e as pessoas que se identificam com outras identidades (70,7%) são os que mais reconhecem ter vivido situações de violência psicológica. Uma prevalência que se estende à maioria dos comportamentos violentos.
O Estudo Nacional sobre Violência no Namoro, divulgado esta terça-feira, Dia dos Namorados, contou com a participação de 5.916 jovens do 7º ao 12º ano, de escolas portuguesas selecionadas aleatoriamente, que responderam a um inquérito anónimo, aprovado pelo Ministério da Educação. Financiado pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), o estudo decorre no âmbito do projeto ART’THEMIS+ “Jovens Protagonistas na Prevenção e na Igualdade de Género” e foi desenvolvido pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR). Desde 2014, a associação criou este programa de prevenção primária da violência de género em contexto escolar.
No que diz respeito aos sinais de violência no namoro, 67,5% dos participantes não a associam a, pelo menos, um destes comportamentos: o controlo (53,1%); a violência psicológica (36,8%); a violência sexual (31,2%); a perseguição (25,5%); a violência através das redes sociais (22,1%); a violência física (9,6%); o pegar no telemóvel ou entrar nas redes sociais sem autorização (35,7%); o insultar durante discussão (30,7%); o pressionar para beijar (30,2%); o procurar insistentemente (25,5%); o insultar através das redes sociais (18,6%); o magoar fisicamente sem deixar marcas (8,6 por cento).
O género masculino apresenta maiores níveis de legitimação para estes sinais do que o género feminino, destacando-se a violência psicológica e, em particular, “o insultar durante discussão” (41,3% dos rapazes consideram o comportamento legítimo, em oposição a 21,7% das raparigas). As diferenças também se verificam no “pressionar para beijar à frente dos amigos” (40,9% dos rapazes não reconhece como comportamento violento, em comparação com 21,4% das raparigas).
Os resultados apontam para “a importância da prevenção primária da violência de género em contexto escolar”, conclui a UMAR. Em comentário ao estudo, Isabel Almeida Rodrigues, Secretária de Estado da Igualdade e Migrações, refere que “a aposta na intervenção primária é essencial para que rapazes e raparigas saibam reconhecer sinais de violência, estabelecer limites e criar noções de consentimento. O ciúme e a posse não cabem em relações de namoro saudáveis e importa apoiar as pessoas jovens a identificar e a quebrar estes ciclos de violência.” Já a presidente da CIG, Sandra Ribeiro, realça a “importância do conhecimento adquirido por estes estudos para continuar o trabalho de prevenção junto das pessoas mais jovens para o reconhecimento e a não aceitação de comportamentos abusivos.”
De acordo com dados divulgados pela Polícia de Segurança Pública (PSP), as queixas por violência no namoro aumentaram 10%, entre 2018 e 2022, tendo sido recebidas 10.480 denúncias. Até dia 18, a PSP realiza uma operação de sensibilização e informação nas escolas sobre a prevenção da violência doméstica. Em declarações à Lusa, a PSP apela ainda à denúncia da violência, nas esquadras ou junto das Equipas da Escola Segura ou das Equipas de Proteção e Apoio à Vítima. O apoio pode ser solicitado através dos contactos escolasegura@psp.pt ou violenciadomestica@psp.pt.