Luana Pereira tinha 16 anos quando desapareceu sem deixar rasto, em Cruz da Areia (Leiria). Na manhã de 30 de maio de 2022, a jovem passara, como habitualmente, pelo local de trabalho da mãe, antes de seguir a pé a caminho da escola. O percurso é de apenas 10 minutos, e nada fazia prever algo de diferente. Porém, Luana não chegou a entrar pelos portões daquele estabelecimento de ensino; nem voltou a ser vista por ninguém.
No dia em que desapareceu, a jovem vestia uma camisola de cor azul com um boneco branco e umas calças de licra, como ainda consta na página da Polícia Judiciária (PJ). Não levava consigo quaisquer documentos de identificação ou dinheiro, mas estava na posse do telemóvel, de uma consola de jogos (de que era inseparável) e de alguns pertences pessoais.
Sem sinais da menor – que chegou a estar sinalizada pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo, por não assistir às aulas à distância, durante a pandemia –, a família participou do desaparecimento na PSP. Embora admitisse que a menor “tinha fugido voluntariamente, talvez com um homem mais velho, com quem conversava quando jogava online”, durante horas a fio, apurou a VISÃO. Os insistentes apelos por informações nas redes sociais não surtiram efeito.
“Cativeiro” em Évora
Luana fez 17 anos no passado sábado, 28. Três dias depois, a PJ anunciou que a tinha encontrado e resgatado em Évora, a cerca de 230 quilómetros da sua residência.
Durante os últimos oito meses, Luana viveu em casa de um homem, de 48 anos, naquela cidade alentejana; e com a mãe deste. De acordo com a investigação, Luana e este homem, um empregado fabril, tiveram os primeiros contactos através de um jogo online, quando a jovem tinha apenas 14 anos. Os frequentes contactos terão evoluído para uma “relação amorosa, até que surgiu a oportunidade de o suspeito a ir buscar a Leiria, levando-a com ele”, diz a PJ.
Durante todo este período, a PJ correu contra o tempo para localizar Luana. Avança o Público, esta quarta-feira, que “o Ministério Público demorou cinco meses para conseguir a autorização judicial para solicitar à operadora a localização celular das comunicações realizadas pela adolescente” por decisão de uma juíza, que “argumentava com a lei dos metadados e outro acórdão” – também por isso os resultados tardaram…
Em comunicado, a PJ explica que, esta terça-feira, “foi possível identificar o suspeito e localizar a menor na sua residência, sita na cidade de Évora, onde, a coberto de uma suposta relação amorosa, este a manteve em completo isolamento social durante oito meses, aproveitando-se da sua persistente e recorrente dependência de jogo online, imaturidade e personalidade frágil”.
Em conferência de imprensa, Jorge Leitão, da Diretoria do Centro da PJ – que ficou a cargo desta investigação –, explicou, ontem, que, quando foi encontrada, Luana “estava tranquila, bem tratada, a fazer aquilo de que gostava, que era o vício do jogo online”. A investigação acredita que, nestes oito meses, a jovem “nunca terá saído de casa, passando a maior parte do tempo num quarto sem luz natural”. Falta apurar, no entanto, a questão do consentimento, “se foi livre, sério e esclarecido”, referiu Jorge Leitão. A PJ “acredita que não”.
O homem que levou Luana foi detido. E vai ser agora presente às autoridades judiciárias para aplicação de eventuais medidas de coação. Luana já regressou a casa.