Milhares de professores estão concentrados na zona do Marquês de Pombal, em Lisboa, numa marcha de protesto convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP) que irá terminar no Terreiro do Paço. Há docentes de vários pontos do País presentes na segunda manifestação do setor no último mês. Do Algarve saíram 15 autocarros em direção a Lisboa, do Porto viajaram dez, de Coimbra partiram seis.
“Nós é que sabemos as necessidades dos professores, nós é que conhecemos o que se passa nas escolas. Não fazemos greve em vão. Há 20 anos que não somos ouvidos”, queixava-se uma professora junto à rotunda do Marquês, ao início da tarde, em declarações à SIC Notícias.
“Estamos a lutar por uma escola digna para todos”, referia outra, enquanto aguardavam pela chegada de mais autocarros para descerem a Avenida da Liberdade rumo à Praça do Comércio. “Comecem a pensar que estamos unidos e não vamos desistir de lutar”, dizia ainda outra docente, numa mensagem dirigida ao Governo e ao ministro da Educação, João Costa.
A manifestação conta com centenas de professores não sindicalizados. Ao som de tambores e de buzinas, levantam lenços brancos para dizer “adeus ao senhor ministro” e exibem cartazes a pedir dignidade pela profissão, pela escola pública e pelo acesso ao topo das carreiras. “Ministro, escuta, a escola está em luta”, “não à municipalização” e “unidos pela educação” são algumas das palavras de ordem dos milhares de participantes no protesto.
“Vamos ter uma marcha que contará com trabalhadores docentes, não docentes, pais, alunos, mas também profissionais de outros setores. Esperamos mais de 50 mil pessoas em defesa da escola pública”, antecipava André Pestana, coordenador nacional do STOP, em declarações à Lusa, na véspera.
A marcha realiza-se num momento de grande contestação dos professores, que estão em greve desde 9 de dezembro, numa paralisação convocada pelo STOP que se deverá prolongar, pelo menos, até ao final de janeiro e foi alargada aos trabalhadores não docentes.
Além de reivindicações antigas relacionadas com a carreira docente, condições de trabalho e salariais, os protestos foram motivados por algumas das propostas do Governo para a revisão do modelo de recrutamento e colocação de professores, que está a ser negociada com os sindicatos desde setembro.
Em particular, contestam a possibilidade de incluir outros critérios de seleção, além da graduação profissional, ou de os professores passarem a ser contratados por entidades locais ou pelos próprios diretores. O Ministério da Educação já desmentiu, no entanto, essa informação.
Apesar de as principais reivindicações serem partilhadas pelos sindicatos do setor, a marcha de hoje é iniciativa apenas do STOP e não vai contar com a adesão dos restantes sindicatos, alguns dos quais já tinham agendado uma manifestação, inicialmente para março e entretanto antecipada para 11 de fevereiro.
Nas redes sociais, o STOP revelou que dirigiu à UGT e à CGTP convites para participarem na marcha, mas, em resposta à Lusa, o secretário-geral da Fenprof, afeta à CGTP, disse que o plano de luta definido em convergência com outros sete sindicatos “é muito exigente e a dispersão por outras ações não ajudará à sua concretização”.
Por outro lado, Mário Nogueira afirmou também que, quando anunciou a greve, a plataforma de sindicatos apelou a que as restantes organizações se associassem ao protesto, mas sem respostas. Alguns dias depois, o STOP convocou o protesto de hoje. Além da greve convocada pelo STOP, está a decorrer desde o início do 2.º período uma greve parcial ao primeiro tempo letivo, convocada pelo Sindicato Independente dos Professores e Educadores, que se vai prolongar até fevereiro.
Entre 16 de janeiro e 8 de fevereiro realiza-se uma outra greve por distritos, convocada pelas mesmas oito organizações sindicais, que também estão a preparar uma concentração em frente ao Ministério da Educação em 20 de janeiro, no dia em que voltam a sentar-se à mesa com o Ministério da Educação.
As paralisações têm levado ao encerramento pontual de várias escolas. Na quarta-feira, o Ministério da Educação revelou que pediu um parecer jurídico à Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a legalidade da forma de execução das greves, e em cima da mesa está a possibilidade de serem decretados serviços mínimos para a greve em curso.
Com Lusa