Há muito, muito tempo… Mais exatamente há 10 mil anos, no Crescente Fértil, nas áreas do Médio Oriente que rodeavam os rios Tigre e Eufrates, populações humanas encontraram as condições para assentar e começar a cultivar a terra. Foram os primeiros sedentários da humanidade, abandonando a vida de caçadores-recoletores.
O Crescente Fértil abrange zonas que hoje conhecemos pelos nomes de Palestina, Israel, Líbano, Kuwait, parte da Síria, do Iraque, do Irão e do Egito… O berço da civilização. E quem esteve connosco desde que nos tornámos sedentários foram os gatos.
Um estudo da Universidade do Missouri-Columbia, agora publicado, analisou 200 marcadores genéticos de felinos recolhidos um pouco por todo o mundo. Explica a geneticista Leslie A. Lyons: “Um dos principais marcadores que estudámos foram os microssatélites, que sofrem mutações muito rapidamente e nos dão pistas sobre as populações mais recentes de gatos e os desenvolvimentos das raças nas últimas centenas de anos”.
E continua: “Outro marcador chave de ADN analisado foi o polimorfismo de nucleotídeo único, que nos dá pistas sobre a história ancestral, recuando milhares de anos. Comparando ambos os marcadores, podemos começar a contar a história da evolução dos gatos”.
E essa história mostra que os felinos de aproximaram dos humanos com a agricultura, tendo grande serventia no controlo de pestes, como caçadores de roedores. E, ao contrário dos cavalos e das vacas, sublinha ainda a geneticista, animais que foram sendo domesticados ao longo dos tempos e em várias partes do mundo, os gatos foram domesticados logo ali, naquela época e naquele local. E depois migraram, estas raças já domesticadas, levadas pelos humanos para outras regiões do mundo.
Mas estão mesmo domesticados?
E será que podemos mesmo referirmo-nos aos gatos como animais domésticos? É a própria Leslie Lyons, um das autoras do estudo (outro dos autores é o investigador português Paulo C. Alves), da Universidade do Porto), quem dá a resposta, no site ScienceDaily: “Podemos dizer que os gatos são semi-domesticados porque, se os largarmos na natureza, eles continuarão a caçar roedores, a acasalar e a sobreviver por eles próprios. Ao contrário dos cães e de outros animais domesticados, nós não mudámos propriamente o comportamento natural dos gatos durante o processo de domesticação. Os gatos são animais especiais”. Alguém duvida?