A cirurgia estética tem feito o seu caminho nas décadas mais recentes, dos volumes aos contornos das mais variadas partes do corpo, e uma das tendências em voga nos dias que correm dá pelo nome de bichectomia. À boleia das celebridades que a ela recorrem, e da rápida propagação da informação nas redes sociais – muitas vezes, não passam de rumores e suposições, como se sabe -, esta intervenção para emagrecer o rosto ganha cada vez mais adeptos.
A bichectomia, ou lipectomia jugal, se optarmos pela designação clínica, consiste em remover uma camada de gordura das bochechas, de forma a que as maçãs do rosto se tornem salientes e a face ganhe uma aparência mais definida pelo osso malar e, portanto, menos carnuda (ou bochechuda, na gíria popular). O nome pelo qual é mais conhecida provém do anatomista francês Marie François Xavier Bichat, o primeiro a identificar essa massa de gordura esférica, mais proeminente durante a infância ou em pessoas obesas, que recebeu a designação de bolsas adiposas de Bichat. Além de ajudarem no mecanismo de sucção, importante na fase de amamentação, não lhes é reconhecida qualquer outra função, sendo por isso descartáveis na idade adulta.
Talvez por isso, e porque já se realizava uma cirurgia para as remover em casos em que os dentes mordem as bochechas durante a mastigação, a medicina estética entrou nesse domínio para ir mais além do que os procedimentos no rosto à base de toxina botulínica (vulgo, botox) ou de ácido hialurónico. Enquanto os efeitos destas duas soluções são temporários, a bichectomia remove definitivamente aquela gordura facial.
A intervenção, realizada através de uma pequena incisão no interior da boca sob anestesia local ou geral, tem ganho lastro nas redes sociais, à custa das celebridades que, alegadamente, alteraram as feições através dela. Imagens ao estilo “antes e depois” têm denunciado, nos últimos anos, artistas da música e do cinema como Madonna, Jennifer Aniston, Angelina Jolie, Jennifer Lopez, Mila Kunis, Victoria Beckham ou Megan Fox, assim como a modelo Bella Hadid ou a influencer Kim Kardashian, mas a figura pública que assumiu com todas as letras que efetuou a cirurgia foi a modelo Chrissy Teigen, mulher do músico John Legend. Em meados deste mês, deu que falar a atriz Lea Michelle, protagonista da série Glee, apontada nas redes sociais como outra estrela de Hollywood que não resistiu a esta operação plástica.
“As redes sociais têm um papel tremendo”, sustenta o cirurgião plástico norte-americano Darren Smith, citado pela CNN. “Elas definem todo o tipo de tendências, porque as pessoas têm um acesso mais rápido e mais frequente aos últimos visuais e tendências das celebridades.”
A moda da bichectomia terá começado no Brasil, antes de se expandir para os Estados Unidos da América, e também já chegou em Portugal. Não há clínica de cirurgia plástica que não ofereça a solução, mas nem todas as pessoas estão habilitadas a adotá-la. Quem tem um rosto magro, por exemplo, não deve recorrer a esta técnica, uma vez poderá acentuar o envelhecimento à medida que os anos passam, tornando-o mais precoce. Embora em menor grau, o risco é extensível a pessoas com bochechas mais pronunciadas, como alertou, numa campanha realizada em 2019, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Na operação, é necessário que o cirurgião seja preciso na quantidade de tecido a remover, o que varia de cliente para cliente. “Temos de ser muito cuidadosos de forma a remover a quantidade certa em cada pessoa”, avisa Darren Smith.
Segundo os novos padrões de beleza da bolha artística de Hollywood, os rostos magros, com contornos definidos, parecem ter destronado as feições mais volumosas e arredondas, mas não há bela sem senão. Além do possível envelhecimento precoce da face, entre os possíveis riscos da bichectomia, de acordo com a Sociedade Americana dos Cirurgiões Plásticos, encontram-se, entre outros, dormência ou alterações de sensibilidade, enfraquecimento dos músculos faciais e lesões nas ramificações no nervo facial. Como em qualquer cirurgia plástica, a recomendação passa por procurar profissionais credenciados para o efeito, ou o sonho de Hollywood pode acabar por transformar-se em Pesadelo de Elm Street, popular filme de terror que foi um sucesso de bilheteira em 1984.