A procrastinação é um ciclo: tem uma tarefa para fazer, mas primeiro vai beber um café para acordar. Enquanto toma o café tem de confirmar se respondeu a todos os seus contactos nas redes sociais, e acaba por ficar a ver um vídeo de humor. Durante este processo, lembrou-se que tinha de ir dar de comer ao seu animal de estimação e quando ia a meio do processo é que olhou para as horas e percebeu que já tinha passado uma hora desde que era suposto começar a tarefa. Este é apenas um dos inúmeros exemplos de procrastinação, que pode mesmo passar por coisas mais simples, como ficar apenas no sofá sem fazer nada.
Fuschia Sirois, professora da Universidade de Durham e uma figura mundial na área da procrastinação, explica que estamos perante “uma forma de regulação emocional em que se evita uma tarefa que pode desencadear emoções negativas, desvinculando-se dela ou adiando-a”. Em síntese, e segundo a especialista, aceitamos que aquela tarefa é desagradável ou chata, ou frustrante ou stressante… e, ao colocá-la de lado, temos uma sensação imediata de alívio. Mas ela “vai voltar para nos assombrar.”
Fuschia Sirois traduz o problema em números para que se possa perceber a dimensão: “Estima-se que 50% dos novos alunos procrastinam cronicamente e isso é um problema real”, afirma. Na população adulta em geral estima-se que entre 15-25% das pessoas procrastinam com frequência.
Se numa fase inicial, este adiamento das tarefas parece não afetar muito o dia-a-dia, com o desenrolar do tempo isso muda. A procrastinação crónica pode até ter um impacto na saúde – insónias e dores de cabeça -, no bem-estar e no trabalho- menos segurança na progressão da carreira. “A procrastinação não é uma questão trivial”, analisa Sirois. “Pode ter impactos negativos substanciais na vida de uma pessoa. Mas não precisa ser assim, existem maneiras de lidar com isso e há esperança para aqueles que estão presos num padrão de procrastinação crónica”.
Foi por ouvir histórias mais complexas de casos de procrastinação, ao longo de duas décadas, que Sirois criou o guia Procrastinação: O que é, porque é que é um problema e o que pode fazer . “Eu falo muito em público e recebo e-mails após as palestras de pessoas cujas vidas são prejudicadas pela procrastinação. Não conseguem seguir em frente com seus objetivos. [A procrastinação] está a afetar a sua saúde e estão desesperadas por qualquer tipo de conselho”, revela a autora.
A professora explica que não é a ouvir comentários como ” és um preguiçoso” ou “treina a tua autodisciplina” que a situação melhora. É, sim, numa fase inicial, entender melhor qual é o problema para resolvê-lo, deixando as culpas de lado e ser menos exigente consigo mesmo.