O relógio continua a contar e a menos de um mês do primeiro lançamento do novo Sistema de Lançamento Espacial (SLS, na sigla inglesa) da NASA, os preparativos continuam com os últimos testes e correções a serem feitos no decorrer deste mês.
Mais de cinquenta anos depois do astronauta Neil Armstrong ser o primeiro homem a alguma vez pisar a Lua, a NASA quer voltar a enviar pessoas ao satélite da Terra, mas desta vez é para ficar. O programa Artemis, dedicado a concretizar este objetivo, foi anunciado inicialmente pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, naquele que era o 45º aniversário do último voo do programa Apollo, responsável por colocar, na década de 1960, o homem em solo lunar.
O programa Artemis foi nomeado em honra da deusa da mitologia grega, Artemis, que não só é a irmã gémea de Apollo, o que permite honrar os primeiros esforços do homem na Lua, como é conhecida em alguns mitos, por ser a deusa deste satélite natural.
Este mês marca os últimos esforços para enviar pela primeira vez numa trajetória em redor da Lua a mais recente nave espacial da NASA, Orion, para que possa ser, juntamente com o novo SLS da agência, testada. Este será, no entanto, apenas um de muitos testes que decorrerão até 2025, a data marcada para enviar de volta humanos à Lua.
A NASA já anunciou que o lançamento da nave espacial Orion será feito a 1 de agosto deste ano a partir do Vehicle Assembly Building (VAB) no Kennedy Space Center (KSC) da NASA, na Flórida, e registará a primeira de várias complexas missões que terão de ser concluídas antes que o homem possa voltar a pisar a superfície da Lua. Esta primeira missão será nomeada Artemis 1. Seguir-se-ão as missões Artemis 2, “o primeiro teste de voo tripulado do Sistema de Lançamento Espacial e da nave espacial Orion ao redor da Lua”, e Artemis 3, que corresponderá a “missões regulares com tripulação que viajará para a Lua e em redor da mesma”, com explica a própria agência.
A missão Artemis 3 trará a novidade pela qual todos esperam: o homem não só voltará a pisar a Lua, como irá habitá-la. “As primeiras missões incluirão estadias curtas na superfície, mas à medida que o acampamento base evoluir, o objetivo é permitir que a tripulação permaneça na superfície lunar por até dois meses de cada vez”, explica em comunicado a NASA. “Em cada nova viagem, os astronautas terão um nível crescente de conforto com mais capacidade do que nunca para explorar e estudar mais a Lua”, diz ainda Kathy Lueders, administradora associada de voos espaciais tripulados na sede da NASA em Washington. “Com mais procura por acesso à Lua, estamos a desenvolver as tecnologias para alcançar uma presença humana e robótica sem precedentes a 240 mil milhas de casa [cerca de 386 mil quilómetros]”, acrescentou Lueders.
A ambição não fica por aqui e já existem planos para bem depois de 2025. De acordo com os projetos da NASA, as missões poderão percorrer todos os números até à Artemis 9. O objetivo central será o de construir uma pequena base permanente na Lua para pesquisa científica, assim como um veículo capaz de funcionar como um laboratório que se move pela superfície lunar. Este tipo de iniciativas poderia ser o primeiro passo para responder a um conjunto vasto de questões que mais de 50 anos depois de o homem pisar pela primeira vez a Lua continuam sem resposta: Quanta água estará congelada nas crateras sombrias dos polos lunares? Como se formou, concretamente, o sistema Terra-Lua? A solução a estes enigmas pode esconder-se algures no único satélite natural da Terra.
O programa Artemis tem grandes planos para o futuro e a Lua é só uma primeira paragem em direção a destinos mais distantes. “Colaboraremos com parceiros comerciais e internacionais e estabeleceremos a primeira presença de longo prazo na Lua. A parti daí, usaremos o que aprendemos na Lua e no seu redor para dar o próximo salto gigante: enviar os primeiros astronautas a Marte”. A acompanhar aquele que será mais um grande passo para a humanidade, a NASA também espera ser a impulsionadora de um avanço em prol da igualdade, pousando “a primeira mulher e a primeira pessoa de cor na Lua”.
De acordo com a agência, existe um número vasto de vantagens em regressar à Lua, desde “descobertas científicas” a “benefícios económicos”, abrindo portas a “uma nova geração de exploradores: a Geração Artemis”.
Os benefícios económicos podem ser uma vantagem especialmente relevante tendo em conta que o programa Artemis poderá ultrapassar os 4 mil milhões de dólares por voo, quase 20% do orçamento total da NASA, segundo um relatório do escritório do inspetor geral da NASA. O programa enfrenta vários obstáculos do ponto de vista financeiro já que terá ainda de desenvolver muita da tecnologia necessária para que o mesmo possa avançar e cumprir os objetivos estabelecidos, desde fardas espaciais que protejam os astronautas das temperaturas geladas do polo sul lunar, ainda não atingido pelo ser humano, a novos módulos de aterragem, nomeadamente tendo em conta que aqueles utilizados nas missões de Apollo na década de 1960 não funcionarão com as naves de nova geração da NASA, como realça a revista Nature.
No total, a missão de Artemis poderá exigir um total de 93 mil milhões de dólares em investimento. Embora comparável aos custos que exigiu o anterior programa Apollo, é importante que os EUA se questionem: será esse um bom investimento? Deverá ser uma prioridade? Afinal, o financiamento parece ser, em muitos aspetos, o calcanhar de Aquiles do programa Artemis.
Outros programas como aquele desenvolvido pela SpaceX, a empresa de sistemas aeroespaciais e transporte espacial de Elon Musk, parecem estar também a desenvolver as suas próprias naves cujo orçamento parece ser, inclusive, mais reduzido, nomeadamente porque reutilizam frequentemente peças utilizadas em viagens anteriores, algo que a NASA não fez.
Porquê investir neste programa?
A NASA tem a experiência, a posição, a estabilidade e, acima de tudo, o apoio internacional, nomeadamente da Agência Espacial Europeia que terá fornecido uma parte fundamental da nave espacial Orion, necessário para avançar com um esforço que mais do que dos EUA, é do mundo. Por outro lado, existe ainda a componente política que tem um peso inegável nas decisões orçamentais de qualquer país: ao investir num programa que terá de contar com a colaboração de milhares de técnicos, cientistas e astronautas, os EUA estão a gerar emprego e a assegurar que milhares de trabalhadores que estavam antes em programas entretanto encerrados não fiquem no desemprego.
“As missões Artemis permitem uma economia lunar crescente, alimentando novas indústrias, apoiando o crescimento do emprego e aumentando a demanda por uma força de trabalho qualificada”, explica a própria NASA.
Por agora, todos os esforços se concentram no lançamento que acontece já no primeiro dia do próximo mês e que será mais um passo em frente na descoberta dos segredos do Universo.