Nos inícios de 2014, Pedro Silva, então com 35 anos, tomou a decisão de emigrar para Angola; a residir na Apelação, Loures, e a trabalhar como motorista e bombeiro voluntário em Camarate, no mesmo concelho, começara a sentir, após o divórcio, que já nada o prendia a Portugal. Movido pelo sonho de uma vida melhor, lamentava-se, no entanto, do percurso escolar que interrompera, ainda na juventude, temendo que pela falta de formação académica pudesse ser prejudicado e impedido de alcançar um emprego bem remunerado naquele país africano. Consumido pela incerteza, Pedro Silva apostou num plano simples, mas arrojado, apenas com recurso a um computador e uma impressora: pesquisou e recolheu na internet modelos de certificados de habilitações literárias, a partir dos quais criou, com um pequeno esforço de edição, um documento em nome próprio que declarava ter concluído o 12º ano de escolaridade, no Externato de S. José, um estabelecimento de ensino na freguesia próxima de Sacavém, que encerrara portas na viragem do século. Recorrendo a um carimbo de selo branco daquela instituição – cuja origem a posterior investigação nunca apuraria –, e reproduzindo pelo seu próprio punho a assinatura de uma suposta chefe de serviços daquela escola, Pedro Silva conseguiria atestar a “veracidade” do certificado.
Foi assim, segundo o Ministério Público (MP), que nasceu uma organização criminosa que, entre 2014 e 2016, falsificou e vendeu, pelo menos, cinco dezenas de certificados de habilitações literárias, a esmagadora maioria dos quais a bombeiros voluntários que exerciam funções em quartéis na Grande Lisboa – não só naquele que se tornaria na “sede” do grupo, Camarate, mas também em Oeiras, Almada, Cacilhas, Barreiro, Seixal, Moscavide, Carnaxide, Sacavém ou Zambujal, e também em São Martinho do Porto, no concelho de Alcobaça (Leiria).