Um fenómeno de calor extremo atinge esta semana a Península Ibérica colocando algumas regiões de Portugal em alerta laranja ou amarelo. As máximas previstas nos próximos dias só são normalmente registadas entre julho e agosto e muitos especialistas têm alertado para o facto de as ondas de calor do verão estarem a acontecer cada vez mais cedo e com mais frequência.
De acordo com os registos oficiais, pelo menos desde 10 de junho que o limiar dos 40 graus de temperatura máxima tem sido consecutivamente ultrapassado em vários locais de Portugal Continental, nomeadamente nos distritos de Vila Real, Santarém, Viseu, Évora, Setúbal, Portalegre e Beja. O tempo quente permanecerá, pelo menos, até dia 16, mas as temperaturas mantêm-se elevadas durante todo o mês, marcando aquele que será um Junho bastante quente.
A partir desta quarta-feira, e segundo as previsões do Instituto do Mar e da Atmosfera (IPMA), as temperaturas máximas sofrerão uma ligeira descida. Hoje Portugal pode contar com máximas que atingem e ultrapassam os 30 graus na maioria do País. Em Évora e Beja as temperaturas aproximam-se dos 40 graus, marcando, assim, não só um dos dias mais quentes de toda a semana como um dos dias com as concentrações mais elevadas de poeiras provenientes do Sara.
Espanha e França também são afetadas pela onda de calor que tem atravessado a Europa Ocidental, com origem num sistema de baixas pressões entre as ilhas dos Açores e da Madeira, que tem empurrado o ar quente para esta região. As temperaturas em Espanha já bateram, inclusive, os recordes dos últimos 20 anos. Durante o fim de semana, as máximas ultrapassaram os 40 graus em Sevilha e Córdoba, 42 graus no vale do Guadiana, na Extremadura e 43 graus noutras regiões do sul do país.
Segundo a Agência Estatal de Meteorologia espanhola (AEMet), desde 1981 que não existiam registos de temperaturas tão elevadas tão cedo no ano, e é apenas a terceira vez que se verificam estas ondas de calor antecipado que marcam o começo do verão entre 20 a 40 dias mais cedo do que há 50 anos. O ano passado fiou registado como o mais quente e seco do País, com as temperaturas a atingirem valores recorde de 47,4 graus na região de Córdoba em agosto. Os próximos dias trazem temperaturas que seriam expectáveis apenas para esse mês.
Também França sentirá os efeitos do tempo quente, com as temperaturas na região costeira junto ao Mediterrâneo a terem registado valores que atingem os 35 graus e 39 graus, em Rhône. Neste caso, e contrariamente a Portugal, o pico das temperaturas máximas deverá registar-se entre quinta-feira e sábado. Apesar da subida de temperaturas, ainda é cedo para descrever o fenómeno que afeta França como uma onda de calor, dado que essa definição implica que as temperaturas excedam os valores definidos para o dia e noite de cada região por um período contínuo de pelo menos cinco dias.
Seja ou não uma onda de calor, o evento tem chamado a atenção dos meteorologistas pela altura do ano em que está a ocorrer. “Se este episódio for confirmado, será um recorde em termos de quão cedo ocorreu”, disse, de acordo com a franceinfo, o meteorologista Patrick Galois. Episódios anteriores de temperaturas extremas em junho, como aconteceu em 2005 e 2017, só começaram a surgir a partir do dia 18 do mês.
À medida que fenómenos como o descrito começam a ocorrer com mais frequência, a preocupação com as alterações climáticas e os seus efeitos vai ganhando palco. A seca é um problema que tem vindo a escalar, criando alguma preocupação junto dos governos. Em França, já 35 “departamentos” anunciaram restrições de água. No caso português quase todo o território do País foi, de acordo com o IPMA, classificado como estando em “seca severa” até ao final de maio.
O mês passado foi o maio mais quente em Espanha e França desde que há registo e o mais quente em Portugal desde 1931, com a temperatura média mais de 3 graus acima do normal e com uma precipitação média de pouco menos de 9mm, cerca de 13% abaixo do nível normal. “Este défice de precipitação está em linha com a tendência dos últimos 20 anos, marcada por períodos de seca mais frequentes em resultado das alterações climáticas”, explicou Vanda Pires, técnica superior do IPMA.
Uma vez que as temperaturas atingem um pico hoje, mas se mantêm elevadas o resto da semana, o IPMA anunciou algumas recomendações dirigidas especialmente a quem se encontra nas regiões em alerta amarelo ou laranja. No caso do primeiro, é recomendável a utilização de óculos de sol com filtro UV, chapéu, t-shirt, guarda-sol, protetor solar e evitar a exposição das crianças ao sol, no caso o segundo, as consideradas regiões em risco extremo , é importante que se evite o mais possível a exposição ao sol.