No final de janeiro de 2020, Alissa Eckert e Dan Higgins, do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos da América, passaram dias a falar com virologistas e a consultar bancos de dados com a estrutura tridimensional de moléculas para construírem uma representação em três dimensões. Ao fim de uma semana de trabalho, tinham uma imagem com uma estrutura redonda e acinzentada, com pequenos pontos amarelos e laranjas, dominada por espigões vermelhos salientes. Foram os dois ilustradores científicos do CDC que deram ao mundo o símbolo universal da pandemia da Covid-19: o retrato do vírus SARS-CoV-2.
Esta é uma das missões da ilustração científica, tornar visível o que não se vê, tangível o que é abstrato, compreensível o que é complexo. Apesar das técnicas usadas serem artísticas – lápis, guaches, aguarelas, programas de desenho – e as metodologias também – formas, traços, cores, luz e sombra –, tudo isso está ao serviço do rigor científico e de um propósito informativo. “Por muito belas que sejam as representações criadas, elas não são arte, mas ciência visual”, defende Fernando Correia, coordenador do Curso de Formação em Ilustração Científica da Universidade de Aveiro, por ele criado há 12 anos e por onde já passaram cerca de 150 alunos.
A cara do coronavírus
Uma imagem criada pelos ilustradores médicos Alissa Eckert e Dan Higgins
“Não queríamos assustar o público, mas queríamos que o levassem a sério”, afirma Dan Higgins, coautor da mais famosa imagem do SARS-CoV-2, criada a partir de conversas com os cientistas do CDC – Centro de Controlo e Prevenção de Doenças. Entender o papel das proteínas foi essencial (a vermelho temos a famosa Spike; a amarelo as proteínas E e a laranja as M). A imagem tornou-se icónica e os ilustradores cumpriram a sua função.