Ontem como hoje, em tempo de guerra, a censura e a propaganda eram e são armas tão importantes quanto os canhões, os aviões e as bombas. Mas, situando-se este texto na vida em Portugal durante a II Guerra Mundial (1939-1945), há que reconhecer que as regras do jogo da propaganda dos beligerantes eram, por cá, cristalinas – porque alinhadas, claro, com o interesse da ditadura salazarista do Estado Novo de dar a ilusão de uma neutralidade resultante da expressão de opiniões desavindas. Mostra-o a edição de 28 de agosto de 1941 da revista portuguesa Vida Mundial Ilustrada. Quando o exército nazi já dominava a maior parte da Europa e a Grã-Bretanha procurava resistir aos intensos bombardeamentos da Luftwaffe, a publicação semanal dedicou algumas das páginas daquele número às vantagens de Portugal ser um “país neutral”.

A exemplificá-lo, a revista fez uma pequena reportagem no Rossio, epicentro da vida lisboeta, para demonstrar como as notícias sobre a guerra que se desenrolava no resto da Europa podiam ser “lidas” por quem se queria manter informado. Em Lisboa, escrevia o repórter, “as fachadas das casas de vendas dos jornais são mostruários do pensamento e da atualidade de todos os povos e de todos os continentes”. E as fotografias que acompanhavam a peça ilustravam-no bem. Ainda melhor, sublinhavam-no as descrições das imagens. Eis duas das legendas: “No Rossio, praça central da cidade, coração da capital, há, sem atritos nem malquerenças, duas montras de objetivos opostos. Aqui a Alemanha fala… Aqui expõem-se ‘as verdades inglesas’. O povo passa, observa e segue. Não se discute nem se comenta; verifica-se. E a vida portuguesa prossegue…”
Como a diversidade
de opiniões servia
o regime,
os ardinas vendiam
jornais e revistas
preferidos pelos
apoiantes dos
Aliados ou do
Reich de Hitler