Uma obsessão com partos naturais, falta de pessoal e, por conseguinte, de vigilância na maternidade resultaram na morte evitável de mães e recém-nascidos, ao longo de 20 anos, com “falhas repetidas” a serem ignoradas repetidamente. Esta é a conclusão de um relatório, publicado quarta-feira, que culpa o hospital e maternidade do grupo hospitalar público de Shrewsbury e Telford pela morte de vários bebés.
O documento, resultado de uma investigação independente, conclui que 201 bebés e 9 mães poderiam ter sobrevivido se os profissionais da maternidade tivessem prestado melhores cuidados, ao invés de culpar as mães pelos desfechos trágicos quando estes ocorriam.
Alguns dos bebés nasceram sem vida, outros morreram imediatamente o parto, 29 sofreram lesões cerebrais graves e 65 paralisia cerebral, na sequência do uso de forceps e falta de oxigenação no momento do nascimento.
Em centenas de casos, lê-se no relatório, as autoridades de saúde não investigaram os diversos incidentes. A equipa de investigadores descobriu que as famílias não tinham acesso aos dados relativos aos óbitos e que eram maltratadas pela “insensível” equipa da maternidade.
No total, foram examinados casos de 1486 famílias entre 2000 e 2019 e analisou 1592 incidentes clínicos.
“As razões para estas falhas são claras. Não havia pessoal suficiente, havia uma falta de treino contínuo, havia uma falta de investigação e uma liderança eficazes em confiança e uma cultura de não ouvir as famílias envolvidas”, lamenta Donna Ockenden, que liderou a investigação.
Logo na quarta-feira, o secretário da Saúde britânico, Sajid Javid, emitiu um pedido de desculpas, dizendo, perante os deputados: “Quando estes padrões não são atendidos, devemos agir com firmeza, e as falhas de cuidado e compaixão estabelecidas neste relatório não têm absolutamente lugar no Serviço Nacional de Saúde. A todas as famílias que sofreram tão gravemente, lamento”. O responsável anunciou ainda que a polícia está a investigar 600 casos.
Também o Conselho de Enfermagem e Obstetrícia (NMC) escreveu, em comunicado, que “as mulheres e as famílias deveriam ter sido ouvidas e levadas a sério muito mais cedo. É essencial que as famílias sejam ouvidas, os funcionários possam se manifestar e as preocupações sejam atendidas”.