Todos os dias são necessárias entre 900 e mil unidades de sangue para os serviços hospitalares portugueses gerirem a sua utilização em cirurgias ou em situações de emergência. Transformando as unidades em litros – e uma unidade de sangue corresponde a cerca de 450 mililitros (ml) – são precisos entre 405 a 450 litros, diariamente, para manter a reserva num nível satisfatório.
“Em 2020, houve 250 mil pessoas a darem sangue e 2021 deve ter andado pelos mesmos valores. Mas, o ideal seria chegar às 300 mil para conseguir manter a autosuficiência”, explica Alberto Mota, presidente da FEPODABES – Federação Portuguesa de Dadores Benévolos de Sangue.
Os meses de agosto, dezembro e janeiro já são habitualmente maus devido à existência de períodos de férias, feriados, pontes, época festiva do Natal e do Ano Novo. Mas, Alberto Mota alerta que desde novembro que não se está a conseguir repor os níveis ideais da reserva. “A reserva nacional neste momento dá para mais quatro a seis dias”, sublinha.
A reserva nacional neste momento dá para mais quatro a seis dias
Alberto Mota, presidente da FEPODABES – Federação Portuguesa de Dadores Benévolos de Sangue
O facto de estarem atualmente perto de 1,2 milhões de portugueses ou isolados por estarem infetados pelo coronavírus (mais de 592 mil casos ativos) ou por serem um contacto de alto risco e precisarem de ficar em isolamento profilático (mais de 633 mil), não ajuda em nada a situação de dádiva. No entanto, os mais de dois milhões de doentes recuperados da Covid-19 em Portugal, podem ir dar sangue. Não existe qualquer contra-indicação, apenas devem esperar 14 dias depois de ter tido alta para ir dar sangue. Já as pessoas vacinadas contra a Covid-19, que recentemente levaram a dose de reforço, devem esperar sete dias após a inoculação.
São os tipos de sangue O Positivo, O Negativo, A Positivo e A Negativo que neste momento estão em maior défice. “Só há uma forma de aumentar a reserva e é apenas através de doações. Há muitos anos que o nosso País não compra nem vende sangue – é proibido pela atual legislação, e muito bem. A dádiva em Portugal é benévola e gratuita e apenas dos residentes em Portugal. Para conseguir as tais 900 unidades diárias só apelando às pessoas”, esclarece o presidente da federação.
Atualmente, o dador nacional tem, em média, entre 47 e 48 anos, sendo que o número de homens e de mulheres está muito equilibrado, embora haja zonas do País onde são mais as mulheres a darem sangue. A região Norte tem mais dádivas de sangue, ao contrário da região sul e de Lisboa e Vale do Tejo que gasta mais, mas não colhe tanto sangue. O dador de sangue é, tradicionalmente, de classe média-baixa.
Mas, afinal porque são necessários mais dadores e também mais jovens? Uma questão em nada relacionada com a qualidade do sangue dos mais novos. “Como temos uma faixa etária mais velha de dadores, os tais de 47 e 48 anos, nos próximos dez a quinze anos vamos ter problemas. Temos de apelar aos dadores jovens de 18 anos para começarem a dar sangue, para garantir o futuro das dádivas e garantir a tranquilidade no futuro. A região de Santarém, por exemplo, tem muitos dadores, mas está a passar um momento difícil, pois a maioria está a chegar aos 60 anos, perto do limite dos elegíveis”, exemplifica Alberto Mota.
Temos de apelar aos dadores jovens de 18 anos para começarem a dar sangue, para garantir o futuro das dádivas e garantir a tranquilidade no futuro
Alberto Mota, presidente da FEPODABES
Sabendo que os homens pode dar sangue de três em três meses e as mulheres de quatro em quatro meses, todas as pessoas entre os 18 e os 65 anos, sendo que o limite para a primeira dádiva são os 60 anos, com peso igual ou superior a 50 quilos, podem dar sangue. Por cada dádiva é possível salvar a vida (ou ajudar a viver) até três pessoas.
O processo é simples, indolor e sem reações adversas. Quem for dar sangue saiba que antes deve tomar uma refeição ligeira, meia hora antes é aconselhável beber meio litro de água e não deve fumar duas horas antes ou depois da dádiva. A maior parte dos dadores termina a sua dádiva em 15 a 30 minutos, depende da quantidade de dadores e de profissionais presentes no local da colheita. E os 450 ml de sangue colhidos, divididos depois em plasma, glóbulos vermelhos e plaquetas, são o volume que se pode colher sem prejudicar o dador. “Se o dador tiver no mínimo 50 kg de peso e 1,5 m de altura então tem um volume total de sangue superior a cinco litros. Em pouco mais de 10 minutos (tempo que leva uma doação de sangue) podemos perder 9% do volume total de sangue sem que nos sintamos mal”, lê-se na informação ao dador.
Não seja uma eventual nódoa negra (hematoma) no braço, no local de inserção da agulha na veia, ou a diminuição das reservas de ferro (que se repõem facilmente na alimentação, numa dieta mais rica em ferro) que nos impeçam de ir dar sangue. Pela nossa saúde e pela dos outros.
ONDE DAR SANGUE
-Hospitais públicos com serviços de recolha de sangue
-Colheitas de sangue feitas por equipas móveis que diariamente saem para a rua
LISBOA
-Centro de Sangue e da Transplantação de Lisboa
Área Funcional do Sangue > Parque de Saúde de Lisboa > Av. do Brasil, 53, Pav. 17, Lisboa > T. 21 792 1000, 910 650 190 > seg-sáb 8h-19h30
-Área Funcional da Transplantação > Alameda das Linhas de Torres, 117 (ao Hospital Pulido Valente), Lisboa > T. 21 750 4100 > seg-qui 8h-16h, sex 8h-15h
COIMBRA
-Centro de Sangue e da Transplantação de Coimbra
Áreas Funcionais do Sangue e da Transplantação > R. Escola Inês de Castro, S. Martinho do Bispo, Coimbra > T. 239 791 070 > seg-sáb 8h-19h30
PORTO
-Centro de Sangue e da Transplantação do Porto
Áreas funcionais do Sangue e da Transplantação > R. do Bolama, 133, Porto > T. 22 004 5240 > seg-sáb 8h-19h30
Área funcional da Transplantação > seg-sex 8h-16h