Não há ainda muitos detalhes sobre o ocorrido, mas o conhecido Padre Mário de Oliveira, de Macieira da Lixa, sofreu, ontem à tarde, um acidente de automóvel na localidade que popularizou a nível nacional, provocando-lhe diversas fraturas e ferimentos, confirmou a VISÃO junto de pessoas próximas e fontes hospitalares. Por razões ainda não esclarecidas, o carro que conduzia, um Renault Clio, ter-se-á desgovernado tendo embatido numa casa. Transportado ao Centro Hospital do Tâmega e Sousa, em Penafiel, em estado grave, com traumatismos múltiplos, mas sem perder a consciência, o padre Mário, de 84 anos, foi, entretanto, operado de urgência, tendo recolhido aos cuidados intensivos. O prognóstico em relação ao seu estado de saúde é reservado.
Figura lendária da luta anticolonial e da resistência antifascista, Mário Pais de Oliveira foi capelão das tropas portuguesas na Guiné-Bissau e acabou detido duas vezes pela PIDE, pelo facto de assumir, sem tréguas e de forma desassombrada, o combate ao regime e insistir no seu apostolado da Paz. Julgado duas vezes em tribunal plenário, acabou nas prisões da ditadura, acusado de subversão. Presbítero da Igreja do Porto desde 5 de agosto de 1962, antigo pároco de Macieira da Lixa, Mário de Oliveira foi, há quase 40 anos, proibido de exercer o ofício pastoral pela hierarquia católica e é, desde essa altura, pároco sem templo nem altar.

Antigo jornalista do diário República, assumiu a condição de jornalista no pós-revolução, sendo atualmente diretor do jornal digital Fraternizar, jornal publicado em papel durante 23 anos, onde divulga os seus escritos, muitos deles vertidos em mais de meia centena de obras que desafiam os poderes e a narrativa oficial da Igreja Católica. A sua obra de maior sucesso comercial, Fátima Nunca Mais, lançada em 1999 pela editora Campo das Letras (entretanto extinta), teve oito edições no espaço de um ano. O seu último livro, Do mítico Cristo-da-Fé ao Jesus Histórico (Seda Publicações), é uma reedição atualizada de uma das suas obras, e foi lançado já em plena pandemia. “Tem consciência de que nasceu e veio ao mundo para ser presbítero-Jornalista da Igreja-Movimento de Jesus, pobre e no celibato por opção livre e alegre, ao incondicional serviço da evangelização-libertação das mentes-consciências dos seres humanos e dos povos”, foi a forma que encontrou para autodefinir-se. As receitas das vendas dos seus livros têm sido canalizadas para associação cultural e recreativa As Formigas da Macieira e o seu Barracão de Cultura, espaço multiusos que nasceu com o objetivo de promover e divulgar todas as formas de expressão artística de âmbito cultural.