A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta para o facto de a administração repetida de doses de reforço das vacinas contra a Covid-19 não ser uma estratégia viável contra novas variantes, e apela antes ao desenvolvimento de novas vacinas que protejam não só contra a doença grave e morte, mas também contra a transmissão do vírus.
O aviso é feito pelo Grupo Técnico Consultivo da OMS sobre a Composição da Vacina Covid-19 (TAG-CO-VAC), um órgão interno criado pela OMS para avaliar as implicações para a saúde pública do surgimento de novas variantes e o desempenho das vacinas. “Uma estratégia de vacinação baseada na repetição de doses de reforço da composição original da vacina não é provavelmente apropriada ou sustentável”, defende o grupo, numa declaração publicada esta terça-feira.
O alerta chega quando alguns países, como Israel, já aprovaram uma quarta dose da vacina para algumas camadas da população. “O grupo TAG-CO-VAC considera que vacinas contra a Covid-19 com grande impacto na prevenção da infeção e transmissão, além da prevenção de doença grave e da morte, são necessárias e devem ser desenvolvidas”, pode ler-se na declaração.
“Até que tais vacinas estejam disponíveis, e à medida que o vírus SARS-CoV-2 evolui, a composição das atuais vacinas Covid-19 pode precisar de ser atualizada, para assegurar que as vacinas continuam a fornecer níveis de proteção contra a infeção e a doença, inclusive a variante Ómicron e futuras variantes, recomendados pela OMS”, continua o grupo.
As novas vacinas têm de ser mais eficazes na prevenção da transmissão, além da prevenção de doença grave e morte, “diminuindo assim a transmissão comunitária e a necessidade de medidas sociais e de saúde pública rigorosas e de amplo alcance”. Devem também “suscitar respostas imunitárias amplas, fortes e duradouras, a fim de reduzir a necessidade de doses de reforço sucessivas”, lê-se.
De acordo com a OMS, já existem 331 vacinas candidatas a ser desenvolvidas em todo o mundo. A agência de saúde da ONU deu até agora o seu selo de aprovação a oito vacinas diferentes.
A organização sustenta ainda a posição de que é importante garantir “o acesso urgente e alargado às atuais vacinas contra esta doença, para as populações prioritárias em todo o mundo”, uma vez que, enquanto nos países mais desenvolvidos as doses de reforço já são uma realidade, milhões em países menos desenvolvidos ainda não receberam uma única dose.
“Em termos práticos, embora alguns países possam recomendar doses de reforço de vacinas, a prioridade imediata para o mundo está em acelerar o acesso à vacinação primária, particularmente para grupos com maior risco de desenvolver doenças graves”, dizem.
A rápida propagação da variante Ómicron está na base destas preocupações – numa altura em que Hans Kluge, diretor europeu da OMS, declarou numa conferência de imprensa que a Europa estaria prestes a sofrer uma “onda gigantesca” de infeções pela variante Ómicron.
De acordo com os dados da Organização, mais de metade da população da Europa poderá vir a ser infetada com a nova variante nos próximos dois meses, o que pode ter um efeito catastrófico nos sistemas de saúde de todo o continente.
“A este ritmo, mais de 50% da população da região será infetada com a variante Ómicron nas próximas seis a oito semanas”, afirmou Kluge, que confirmou ainda que a Europa tinha registado mais de 7 milhões de novos casos na primeira semana de 2022, o dobro da taxa da quinzena anterior.