Quem nunca se indignou com as máscaras cirúrgicas caídas no chão que levante o braço. É difícil ficar indiferente a este ato do “novo normal”, sabendo que aquele pedaço de plástico, metal e algodão vai parar ao oceano e demorará uma eternidade a decompor-se, entre 300 a 400 anos. Mas, o medo da contaminação é maior e trava-nos de apanhar a máscara do chão e ir colocá-la no caixote do lixo indiferenciado.
Esta é uma preocupação que Pedro Flores, coordenador do gabinete de sustentabilidade ambiental e transição energética da Câmara Municipal de Sintra, se apercebeu que os estudantes nas escolas e a comunidade em geral demonstravam de cada vez que promoviam uma ação de sensibilidade ambiental.
O projeto dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) de Sintra, em parceria com a autarquia e a To-Be-Green da Universidade do Minho, com início marcado para a segunda quinzena de janeiro, prevê o desenvolvimento de um processo totalmente independente e autónomo de reciclagem das máscaras cirúrgicas e de tecido. E, num concelho com 400 mil habitantes, em 320 quilómetros quadrados, adivinha-se o evitar de um enorme desperdício. Mas, “só o projeto-piloto dará a noção de quantas máscaras são desperdiçadas”, diz Pedro Flores.
Numa primeira fase serão envolvidas a União das Freguesias de Agualva-Mira Sintra, freguesias de Algueirão-Mem Martins e de Rio de Mouro e a União das Freguesias de Sintra. Serão criados contentores específicos que depois vão ser colocados junto às instalações dos SMAS de Sintra, nas escolas do 2º e 3º ciclos e secundário, a edifícios municipais, incluindo alguns centros de saúde e uma unidade de serviços de urgência do Hospital Amadora-Sintra, juntas de freguesia e algumas Instituições Particulares de Solidariedade Social. Aí, todas as pessoas, de dentro e de fora do concelho de Sintra, podem depositar as suas máscaras usadas.
A seguir, existirão dois tipos de recolha, a específica dessas máscaras e uma outra exclusiva para as de pano, ditas comunitárias, e todas passam por um processo de esterilização. “É importante que façam uma espécie de quarentena”, exemplifica Pedro Flores. No final do processo de reciclagem – realizado em centros de armazenamento instalados em edifícios reabilitados para esse fim – o resultado é um polímero, um plástico muito resistente e de grande durabilidade apto para fazer todo o tipo de moldes, como por exemplo, para mobiliário urbano, bancos de jardim, pilaretes, estruturas verticais de apoio de informações.
O tratamento das máscaras de tecido faz parte do projeto da To Be Green, start up da Universidade do Minho, focada na sustentabilidade têxtil, cujo objetivo é a valorização dos tecidos, através de uma plataforma para a troca e reciclagem de vestuário usado. Através da sua aplicação, as pessoas podem doar roupa a instituições de solidariedade – e isso acontece quando abdicam dos pontos recebidos por cada peça entregue – ou trocar por outra roupa em segunda mão. Funciona como um banco de trocas, em que as peças usadas depositadas podem ser trocadas por outras ou doadas. Nesta aplicação não são permitidas vendas, mas também não existem gastos com a operação, um requisito para entrar no circuito da economia circular.