Os manatins (Trichechus manatus) são conhecidos por serem gordos, roliços e uns bons gigantes por se terem habituado a nadar sem predadores por perto. O facto de serem mamíferos herbívoros levou a que ficassem conhecidos popularmente como peixes-boi ou vacas-marinhas.
Ninguém esperava, por isso, vê-los um dia ficarem magros. Nalguns casos, tão emaciados que se distinguem a suas costelas, têm constatado, ao longo da costa da Florida, funcionários do Departamento de Conservação das Pescas, Vida Selvagem e Parques dos Estados Unidos.
A magreza extrema dos peixes-boi que habitam as águas da Florida pode ser sinal de que andam literalmente a morrer de fome. A falta de comida será a principal razão por que já morreram este ano mais animais do que em qualquer outro ano – foram mais de mil e ainda faltam uns dias para 2021 terminar.
Segundo dados da Comissão de Conservação das Pescas e da Vida Selvagem da Florida, até ao dia 7 de dezembro tinham morrido 1 017. Ou seja, quase o dobro das mortes ocorridas tanto em 2020 como em 2019.
‘É de partir o coração’
O problema está na destruição das pradarias marinhas onde os manatins da região procuram alimentar-se nesta altura do ano. Quando se aproxima o inverno, eles voltam sempre para essas áreas de alimentação de água quente que estão agora destruídas pelas algas que proliferam graças à poluição humana. E a maioria das mortes aconteceu na Lagoa do rio Indiano, na costa leste da Florida, onde os investigadores estimam que tenham desaparecido 90% das ervas marinhas.
“Eles estão a morrer de fome”, não duvida Paul Fafeita, presidente da Clean Water Coalition, uma organização sem fins lucrativos que se bate pela qualidade da água no estuário do rio Indiano. “Estou lá o tempo todo, sou testemunha do que se está a passar”, disse ao canal de televisão online WPEC. “É de partir o coração.”
Será, por isso, precisamente nessa zona que o Departamento de Conservação das Pescas e Vida Selvagem da Florida decidiu começar a suplementar a dieta dos peixes-boi desnutridos – com alface romana (Lactuca sativa), escolhida por ser tolerante ao calor, e à mão. “Ou se resolve o problema agora ou daqui a alguns anos já não é preciso porque será demasiado tarde”, sublinhou Paul Fafeita.
É ilegal alimentá-los

Aquilo que se passou no inverno passado não deixa margem para grandes dúvidas. Entre dezembro de 2020 e maio de 2021, registaram-se 677 mortes de peixes-boi, o maior número de sempre num período de seis meses.
A maioria das mortes aconteceu ocorreu durante os meses mais frios de janeiro, fevereiro e março. Apesar de “gigantes”, os manatins têm pouca gordura corporal e não conseguem sobreviver com uma exposição prolongada a temperaturas de água abaixo dos 20 graus.
A situação é tão preocupante que a Save the Manatee Club, uma organização, fundada, em 1981, com a missão de proteger estes animais e o seu habitat, tem promovido a linha aberta que os cidadãos devem utilizar quando avistam um animal desnutrido. Os sinais de alerta são as costelas visíveis, uma área afundada atrás da cabeça e o facto de se mostrarem incapazes de manter o equilíbrio enquanto respiram mais rapidamente.
Patrick Rose, o biólogo marinho que dirige a Save the Manatee Clube, recorda que, sem licenças especiais, é ilegal alimentar manatins. “Os peixes-boi podem perder o medo das pessoas e dos barcos à medida que aprendem a associá-los a dádivas de comida, acabando por ser assediados, feridos ou mortos”, lembra, num comunicado publicado pela organização. “Estamos a pedir às pessoas para, por favor, não as alimentarem sozinhas, e para partilharem esta mensagem com os seus amigos, familiares e vizinhos.”
Com ‘Trump’ talhado no corpo
Não é sequer permitido tocar nestes mamíferos. E, no entanto, em janeiro deste ano foi notícia a descoberta de um manatim com a palavra “Trump” talhada, as letras gigantes, no seu corpo.
Nada preparara uma mergulhadora para dar de caras com um animal tão maltratado, a nadar no rio Homosassa. Além de ter filmado o encontro, Hailey Warrington deu conta dele ao Departamento de Conservação das Pescas e Vida Selvagem da Florida que prometeu uma recompensa de 5 mil dólares a quem trouxesse informações que pudesse levar à identificação do autor da infeliz proeza.