Um meme anti-semita de um campo de concentração promovido pelo algoritmo do TikTok e uma coleção de vídeos com uma canção anti-semita – que contabilizou 6,5 milhões de visualizações em menos de três dias antes de serem removidos –, desencadearam, em julho, notícias sobre um “problema nazi” no TikTok. “Vamos numa viagem para um sítio chamado Auschwitz, é hora do banho”, versa a letra da música. O primeiro vídeo a usá-la mostrava um escorpião robô gigante com uma suástica a atacar e a incinerar judeus com gás venenoso em Auschwitz. Perto de uma centena de utilizadores escolheu a música para os seus próprios vídeos – um deles mostrava o Roblox, uma personagem de jogo de computador com parecenças físicas com Adolf Hitler; outro usou uma imagem de um jogo em que as pessoas são mortas com botijas de gás; vídeos com imagens de filmes ou de documentários de televisão sobre o Holocausto também foram publicados.
Reprimir a linguagem codificada e os símbolos que alguns utilizadores têm adotado na tentativa de espalhar discursos de ódio é a estratégia recente do TikTok para combater esses conteúdos discriminatórios e conspirativos. Em causa estão comportamentos de ódio relacionados com ideologias neonazis, supremacia branca publicados na rede social, em funcionamento há cinco anos.
A plataforma de partilha de vídeos, que atingiu mil milhões de utilizadores ativos por mês em todo o mundo durante este último verão, vai retirar depoimentos que tenham origem nessas ideologias, além de conteúdos vinculados a movimentos como identitarismo e supremacia masculina. Tanto o Facebook, como o Twitter, já baniram conteúdos que negam o Holocausto e outras tragédias violentas. O TikTok tem mais de dez mil pessoas em todo o mundo a trabalhar na questão da segurança da rede social, revendo e monitorizando os conteúdos enviados pelos utilizadores, além da utilização de algoritmos para sinalizar e remover conteúdos ofensivos, ou que promovam a desinformação e estereótipos prejudiciais sobre comunidades judaicas, muçulmanas, entre outras.
“O TikTok tem um público grande e crescente e uma responsabilidade igualmente grande de que aqueles que usam a sua plataforma não recebam materiais de ódio”, alertou Danny Stone, chefe-executivo da Antisemitism Policy Trust, em comunicado. “Estamos, por isso, satisfeitos que a empresa esteja a querer aprofundar o seu entendimento e ampliar as suas políticas contra o anti-semitismo e outras formas de racismo e saudamos as mudanças anunciadas.”
“O TikTok tem uma obrigação particular de lidar com esse conteúdo rapidamente porque é especializado em divulgar vídeos virais para crianças e jovens quando estas são mais impressionáveis, e ainda assim a nossa pesquisa mostrou que o TikTok tornou-se um dos vetores mais rápidos para a transmissão de ‘memes’ que ridicularizam o Holocausto”, alerta Stephen Silverman, diretor de investigações e fiscalização da campanha contra o anti-semitismo.
Já em 2018 esse “problema nazi” foi detetado pelo site online Vice, com relatos de apoio ao Atomwaffen, um violento grupo neo-nazi ligado aos assassinatos de vários judeus nos Estados Unidos da América. Uma conta encontrada chamava-se “Race War Now”, noutra a foto do perfil do utilizador era uma caricatura ofensiva de um judeu, retratando um rato ganancioso. Um vídeo continha uma sucessão de utilizadores a fazer saudações nazis e outro vídeo incluía a mensagem: “Tenho uma solução; uma solução final”, referindo-se ao Holocausto. As hashtags incluíam 1488, um número importante para os neonazis, e sieg heil, o infame slogan nazi.