Desde que estreou a um de outubro, a série da Netflix Maid (Criada, em português) foi rapidamente para o top das mais vistas da plataforma. Esta segunda-feira, está em terceiro lugar da lista portuguesa, logo a seguir a Squid Game e You.
O drama, protaganizado pela atriz norte-americana Margaret Qualley, conta, de forma intensa e por vezes crua, a história de uma mãe que foge com a filha de dois anos de uma relação abusiva. Alex deixa Sean, o pai da criança, numa madrugada e torna-se empregada doméstica para sobreviver, ao mesmo tempo que luta contra a pobreza e falta de apoio familiar e governamental, na esperança de um futuro melhor para si e para Maddy. “Acho que a tua filha é uma sortuda. Tem-te a ti“, refere uma das personagens, num dos episódios.
Uma das críticas mais pronunciadas da série tem a ver com o abandono judicial que estas vítimas sentem: Como o pai de Maddy nunca agrediu fisicamente Alex, e apesar dos abusos psicológicos permanentes, torna-se difícil comprovar que Sean maltrata a mulher, dentro de quatro paredes e sem alguém para testemunhar a situação. “Antes de morder, ele ladra. Antes de te bater, o murro é na parede“, alerta uma das personagens. Além disso, o círculo de pessoas que rodeia Alex é omisso, o que torna a situação ainda mais revoltante e angustiante aos olhos dos espectadores.
A empatia que se sente por Alex é quase imediata, sendo esta personagem a representação daquilo por que as vítimas de violência doméstica passam. “Ele disse que nunca me perdoaria. E não perdoou, e eu tenho medo dele desde então“, diz Alex, num momento da série. A vontade que surge do lado de cá do ecrã de que esta mãe consiga ultrapassar os obstáculos é enorme e cada conquista sua é um sinal de esperança para todas as que passam pelo mesmo.
A história real de Maid
Não vamos contar como a história se desenrola, porque pode ainda não ter visto a série, mas o drama vivido por Alex, parecido com muitos, é baseado na história de Stephanie Land, escritora norte-americana, que contou no livro Maid: Hard Work, Low Pay and a Mother’s Will to Survive, (Empregada doméstica: Trabalho Árduo, Baixa Remuneração e a Vontade de uma Mãe em Sobreviver, em português), publicado em 2019, como conseguiu criar a sua filha e sobreviver completamente desamparada.
Land cresceu entre Washignton e Anchorage, no Alasca e, quando decidiu afastar-se do namorado, não recebeu apoio familiar – apesar de passar algum tempo com o pai, saiu de sua casa depois de vê-lo agredir a mulher e a sua relação com a mãe era demasiado instável.
Durante anos, Stephanie viveu com a sua filha, Story, no limiar da pobreza, trabalhando como empregada doméstica numa empresa que pagava salários muito baixos e servindo-se dos poucos apoios governamentais a que tinha direito, que demoravam demasiado tempo a serem concretizados – esta é uma das grandes críticas da série e, antes disso, do livro.
O livro de Land, que alcançou reputação suficiente para ficar no top três dos mais lidos do New York Times, surgiu a partir de um artigo que a autora tinha escrito em 2015 para o site norte-americano Vox, “I spent 2 years cleaning houses. What I saw makes me never want to be rich”, “Passei dois anos a limpar casas. O que eu vi faz-me nunca querer ser rica”, na tradução em português. No artigo, Land explica que, ao longo desse tempo, percebeu quão sujo pode ser esse mundo, muito mais do que as próprias casas.
Depois de seis anos a trabalhar para a Value Maids, a autora conseguiu arranjar os seus próprios clientes e receber mais algum dinheiro, o que a ajudou a tirar um curso de escrita criativa na Universidade de Montana. A partir daí, começou a escrever para blogues e em jornais conhecidos como o Huffington Post.
Stephanie teve outra filha, Coraline, agora com sete anos, e, em 2018, conheceu o atual marido, que já tem dois filhos. Os dois vivem agora com três dos quatro filhos e com três cães.