Processos feitos de milhares e milhares de páginas, escritos de violência e ódio, continuam a entupir os corredores dos tribunais portugueses, sem aparente solução à vista. Na semana em que se estreia o documentário Alcindo (domingo, 24, no DocLisboa), realizado pelo antropólogo Miguel Dores que recupera para a memória coletiva os crimes da noite do 10 de Junho de 1995, motivados por discriminação racial e étnica – e que resultaram na morte de Alcindo Monteiro, aos 27 anos (e de, pelo menos, mais dez feridos graves) –, a extrema-direita portuguesa continua sentada no banco dos réus a responder perante um sistema que, mesmo usando de mão firme, se mostra incapaz de reabilitar os seus condenados. Passado mais de um quarto de século dos acontecimentos que culminaram no único processo de genocídio julgado em território nacional, há rostos que pouco (ou nada) mudaram.
Nuno Cláudio Cerejeira, Jaime Hélder, Tiago Palma e Nuno Monteiro foram condenados pelas agressões e homicídio ocorrido há 26 anos, na flor da idade. Porém, depois de cumpridas as respetivas penas (entre os dois e os 18 anos de prisão) e amadurecidos atrás das grades, mantêm, hoje, os seus nomes nas infames listas de acusados nos megaprocessos que envolvem a extrema-direita portuguesa. Os quatro integram, segundo as acusações, grupos como os Portugal Hammerskins (PHS) ou os Hells Angels Motorcycle Club (HAMC), identificados pelas autoridades como braços locais de perigosas organizações criminosas internacionais. A história destes homens conta-se em dois capítulos.